Depois daquela manhã de sol veio uma tarde chuvosa, um frio repentino, um sentimento esquisito, uma vontade de ficar pensando, quieto, olhando a chuva cair e não se envolver com coisa alguma.
É que os dias chuvosos, por mais que eu não queira, alteram o meu estado interior, arrastam para dentro de mim uma tristeza inquietante, uma saudade de não sei o que, vinda de não sei onde e que, normalmente, passa rapidamente, tão logo a chuva se esvaneça e o sol volte a reinar.
Deve ser porque sou filho de uma terra banhada pelo sol quase o ano inteiro, localizada um pouquinho abaixo do equador.
E fica muito chato ficar escrevendo sobre o vai-e-vem desta saudade episódica, intermitente, que tem uma estranha cumplicidade com o céu nublado.
Por que será que os artistas gostam de ficar cultivando queixas e lamentações, falando de dissabores e melancolias, enquanto a vida estua à nossa frente, cobrando-nos ações, realizações, movimentos, ao invés da pasmaceira, da inércia e do far niente
Depois da manhã de chuva, podem ter certeza veio a chuva e o vento e eu não pude escrever o que eu realmente gostaria de ter escrito.