Rá! Você! Você mesmo! Se ferrou! Começou a ler, se ferrou! Pode ler todo o resto agora, que eu estou falando com você! Você mesmo! Entendeu bem? Escuta aqui! Você, me faça o favor! Me faça o favor! Me diz tudo logo! Anda! Que eu não tenho tempo a perder! Corre! Me diz logo! Me diz que eu sou a pressa em pessoa, eu sou o movimento, eu sou o tempo, eu sou uma jovem. Jo-vem. Eu sou uma jovem. Eu sou algo que está além do entedimento de qualquer um. Porque é absurdo de mais. Jovem. Eu sou uma jovem. Você é ou já foi um jovem? Você sente? Você lembra? Você lembra da velocidade do metró, aqueles trens feitos de gente, que por mais rápido, nunca ia o rápido bastante, se você lhe pedisse: Rápido! Rápido! Mais rápido! E ele nunca, rápido, anda, nunca, rápido, rápido, nunca vai mais rápido, nunca, rápido, nunca, o suficiente, o quanto um jovem pode desejar, nunca. E ele pára, e todos se movimentam, menos você, porque queria mais. Lembra das músicas, dos filmes, das paixões, de toda aquela profundidade superficial, e toda ansiedade e intensidade? Lembra da sua vida começando? Da sua falta de memória e tato, porque acabou de chegar no mundo? O Sol doendo o olho. E, ei, este é o mundo! Slapt! Um tapa na cara. Muito bem-vindo, ben vienido, e welcome. Aqui nós temos trocentas pessoas, de trocentas maneiras, de trocentas culturas, você tem trocentas possibilidades, e trocentas escolhas a fazer, e trocentas mil coisas a conhecer, fazer, ver, ouvir, tocar. Então faça o favor de me dizer. Você, sim, você. Me diz, que eu estou carregando um peso muito além do que qualquer um pode carregar em cima das costas. (Assim como todo o mundo). Eu tenho um mundo nas costas. Eu tenho milhares de toneladas, neutrons, sei lá o que mais, em cima das minhas pequenas costas, que eu nem sei se já pararam de crescer ou não. Eu tenho que escolher minha vida em segundos, com meu corpo e minha cabeça mal formada, mal nascida, mal chegada e despejada, aqui. Eu tenho que ir aos lugares certos, escolher as alternativas certas, entrar nas portas certas. E viver. Amar, beijar, abraçar, e cantar uma canção. Porque eu sou jovem. E eu quero ir mais rápido. E quero ir bem. Eu quero, quero, quero e quero. Eu quero. Eu quero tudo, e não quero nada. Eu tenho uma carreira a escolher, eu tenho um casamento a realizar, e já tenho filhos a crescer, amigos a cultivar, e ser bom, muito bom, ser melhor, que qualquer um. Quando foi que você tomou sua última decisão mais importante? E aí? Deu certo? Não? Dane-se. Ninguém vai ter pena de você. Ninguém vai parar o trem para cuidar de você, para te dar um sorriso, um abraço, ou um simples olhar, um olhar de verdade, daqueles que "percebe coisas". Coisas. Coisas. Coisas. Eu falo de coisas. E repito. Coisas. Porque são tantas coisas, que nem palavras inventaram pra elas ainda. Coisas. Mil coisas. E ir rápido, rápido, rápido... Ainda há esse peso. Que eu odeio, amo, jogo no chão, piso, pego na mão, faço carinho, enfio na boca, mastigo, engulo, vomito, cuspo, e guardo num potinho, dentro de um bolso, ou dentro de um quarto todo. Agora dá licença, que eu preciso salvar um mundo sem cura, que eu preciso ser uma artista, que eu preciso brilhar, ser bonita, ser inteligente, ser bem-sucedida, ser foda, ser uma boa amiga, filha, esposa e mãe. Isso tudo, sem nem parar pra respirar, que dirá cair num chão de banheiro, chorando, e ficar lá, por horas, sentindo fome, e se mijando, mas sem ter forças pra se levantar, soluçando, enquanto o dia muda de cores, e o mundo gira, e as pessoas estão ocupadas demais "sendo". Mas me fala, antes. Me fala. Eu quero ver você me falar. Me diz... O que vem agora?