A gente se arruma, se enfeita, se perfuma, faz o marido criar coragem e fazer a barba e - depois de um dia de trabalho - criar humor para sair com a gente e pagar uma, uma não, duas boas notas no guichê.
O marido é carinhoso e namorador da gente. Quando as luzes se apagam, ele se achega, procurando os velhos caminhos, os velhos tempos. Tão bom!
Durante os "trailers", nós comemos pipocas e suspiramos velhos suspiros. De repente começa "aquilo"! É agressão atrás de agressão, aos gritos, aos rangidos, aos impropérios;
a violência, na perfeição da técnica, faz o sangue dos assassinados respingar na platéia! Eu paro de mastigar e vou me encolhendo. Fecho os olhos.
- Não olhe ainda - diz o marido protetor - tape os ouvidos que ela vai gritar, vai urrar de dor!
Fecho e tapo.
- Pode destapar os ouvidos, mas continue de olhos fechados.
Continuo.
Ora! Francamente! Isto é diversão? Saímos os dois, nos arrastando, do cinema. Perdi o "aplombe" (eh, palavrinha moderna...), os ombros murchos deixam escorrer o vestido.
- Vamos tomar um cafézinho - pergunta o distinto, em tom animoso
- Não - repondo chorosa - quero ir embora, expulsar os extraterrestres, apagar o incêndio da minha casa, ou matar aquela corruptora de menores...
O marido ri, me beija e eu concordo com o cafézinho. Depois, vamos para o nosso carro.
No rumo de casa, os pobres mendigos me parecem viciados curtindo a maconha nos bancos da praça; as mulheres retardatárias me são, agora, decaídas, olhando o "meu" marido com olhos lascivos; a noite, há pouco tão calma, é uma escuridão dos infernos, envolvendo antros!