O negocio aconteceu de verdade, segundo fonte fidedigna, e foi lá pelas plagas do Rio de janeiro ao tempo em que visitar a então Capital da República era currículo obrigatório de qualquer turma finalista de ginásio. Morar no Rio , então, era invejado privilégio e "status"garantido entre as garotas do interior, razão pela qual conhecer a "Cidade Maravilhosa" era quase uma questão de honra.
A turma de 1958 do Liceu Muni Freire, pois, não podia deixar por menos. Depois de muitas cartas , marchas e contramarchas funcionou o "relações públicas" - geralmente um professor bastante interessado no passeio- e finalmente chegou o esperado telegrama confirmando estadia e passagens para 20 pessoas. Era uma turma pequena, mas muito unida, diga-se de passagem.
Acontece, entretanto, que mesmo nas melhores famílias de Londres existem as transviadas. E desde logo devo explicar que a imagem acima não é minha, e sim de um velho conhecido que, por essas coincidências do destino, estava na dita turma aventureira. Pois bem, vai daí que o cara- o tal conhecido - já havia estado, segundo ele, no Rio de Janeiro. Mais tarde quem me contou a historia ficou sabendo que o fato se dera por volta de 1944. O moleque tinha dois anos de idade... E era dado a toques de liderança, ligeiramente pernóstica, já que sua"experiência" anterior o autorizava, não só a comandar o grupo, como até mesmo a mostrar os aspectos mais pitorescos e interessantes da cidade.
Eu sempre ouvira contar historias hilariantes sobre situações incríveis em que haviam passado outros grupos em viagens semelhantes. Havia aquela, por exemplo, que me contara o Cleomir, um estudante do 2o ano cientifico, do cara metido a paulista que ao deparar com a Concha Acústica do Estádio do Pacaembú explicara muito compenetrado que a referida concha havia sido transportada de Santos porque S.Paulo não tinha mar... E como esquecer aquela outra em que o sabichão da turma querendo levar o pessoal pra almoçar no restaurante do antigo SAPS: - Deixa comigo que eu tenho experiência e sei onde é. Tem de ir de taxi. - Taxi! Chamou a condução que passava, estendendo e estalando o dedo ao mesmo tempo.
-Prá onde? Pergunta o taxista.
- Toca pró SAPS, diz arrogante, com ares de alto QI.
Sem abrir a boca, vira-se o motorista para trás e aponta com o dedo prá cima... Estavam embaixo da marquise do prédio em que funcionava o restaurante, conforme indicava uma baita de uma placa.
Eu já havia até duvidado dessas histórias e de outras, mas a experiência me ensinou que todo esse anedotário está repleto de verdades. E mais ainda me convenceu esta do Rio de Janeiro. Como não podia faltar, havia também o entendido, o tal conhecido do início- E vai, pois que, desembarcando em Niterói, ficou desde logo constatado que o óbvio era tomar a barca e atravessar a baia.
Foi quando o pseudo-cicerone tomando ares paternais e estampando preocupação nos olhos disse prá turma: "- Olha pessoal, eu sinto muito, mas quando a gente passar pelo Meier eu vou ter que descer pra visitar minha tia. Mais tarde eu mostro a cidade pra todo mundo.
Voltar ele não voltou, mesmo porque nem saltou como pretendia. Se ele foi ao Meier também não sei. Só sei que durante todo o tempo em que lá estudei a figura do "Cicerone"ficou realmente badalada...