Silêncio. Água. Eco. O branco eco, quase robótico. Despir-se. Roupas caindo ao chão com barulho de vultos, de fantasmas e mortos transeuntes, entre os vivos, a se debater entre os mundos. Vum! Chão. Corpo nu. Carne. Borrão amarelo esbranquiçado no espelho. E algumas manchas, e cicatrizes, e machucados, e marcas, e borrões e mais borrões de todas as cores. Roxo, azul, vermelho, alaranjado. E amarelo, muito amarelo. Frio, frio branco e brando, sensível aos sensíveis. Os pelos do corpo se esgueirando sabe se lá para onde e para quê. Arrepio. Mas passa. Há de passar com as águas. Um pé, seguido do outro, e logo o corpo todo repouso na banheira. Água montante que toca no meu corpo trapeira, procurando algo de bom no monturo, mas nada. O frio há de passar. Essa sensação há de passar. Química supostamente feita de produtos "naturais". Aromas, corantes, compostos, elementos. Artificialidade fingida, e descarada, porém melhor que a própria água, que não limpa bem, nas que foi feita por deus, e não pelos homens. Ah, os homens... Dança. O baile das espumas sobre meu corpo, cuja palavra para defini-lo me foge agora mas denotava de algum nojo por sua humanidade e vulnerabilidade à s coisas que ao homem pertence, o mundano, o sujo, e o fétido. O exato oposto dessa água colorida que toca meu corpo, o "limpando", entre aspas, pois um corpo jamais é limpo. Nasce e morre sujo, isso porque fomos feitos a semelhança de deus. Suor, urina, sangue, saliva, merda. Essa podridão não passa com produtos e belezas da tecnologia dos homens, os sujos, sempre sujos, assim como o deus (que não existe). E eu, em tola esperança, tomo banho, esperando a água levar tudo isto. Sonho. Qualquer animidade minha, sentimentos, pensamentos, e outras infimidades, a minha vida, escorrendo pelo ralo. Vá com deus, querida.
Um corpo morto numa banheira. Sou eu.