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cronicas-->A BRIGA -- 26/09/2003 - 17:10 (Hilton Görresen) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Fui um garoto de poucas brigas. Uma das que me lembro foi na época em que participei de um boi-de-mamão, assunto de uma crónica anterior (bem anterior). Além de não pagarem minha parte nas apresentações, sob alegação de que havia faltado metade do "expediente", ainda me arrumaram uma briga com o Leopoldo, um garoto da vizinhança.
Foi assim: estava eu sossegado em meu canto e vieram me dizer: "Olha, o Leopoldo está falando de ti. Está dizendo que tu não és de nada, que vai te quebrar a cara". Não tinha nada contra ele, nem ele contra mim, mas tanto fizeram que acabamos nos odiando. Sabia que era invenção o que me diziam, uma forma de jogar um contra o outro.Coisas de meninos. Mas uma hora tive de ir lá conferir, para não dizerem que era frouxo.
Ele me esperava bufando. Quem sabe quantas eu lhe havia dito sem saber, pela boca da turma. Quis conversar, mas não adiantou, ele já veio com a guarda fechada, feito um boxeador. Felizmente, naquela época não haviam se espalhado as lutas marciais. Aí, um dos garotos colocou a palma da mão entre nós dois e disse estas coisas originais: quem cuspir aqui primeiro, vence. Os dois ficaram parados, o cenho franzido, como querendo vencer a briga pela cara mais feia.
De tanto a turma insistir, Leopoldo deu uma cuspida. O guri tirou a mão e o material líquido quase me pega no ombro. Furioso com isso, larguei a direita, sem controlar a direção. Não acertei. Dei outra porrada, sem acertar novamente. Mas ele foi recuando. Eu dando socos no ar e ele recuando. Vieram alguns adultos, atraídos pelo barulho, e acabaram separando os dois litigantes, isto é, eu e o Leopoldo. Feitas as contas, acho que havia vencido, mesmo sem acertar nenhum soco. Só com o deslocamento de ar produzido pelos meus murros. Isso devia impor respeito.

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