Era uma sala ampla, isolada e bem fechada. Naquela estação do ano o sol incidia sobre o seu teto apenas durante umas poucas horas por dia. Parecia estar sempre numa constante penumbra_ isto quando não era noite alta.
Seu interior poderia ser considerado belo e aconchegante em tempos melhores; agora, no entanto, a umidade e a sujeira pareciam acometer o ambiente de certa insalubridade crónica. No chão, restos de comida em decomposição, camisinhas usadas, seringas descartáveis e garrafas vazias_dentre outras porcarias_tornavam o ar mais nauseabundo. As minúsculas janelas estavam há muito tempo lacradas, o ar era viciado. O simples respirar naquele local já era uma tarefa árdua e desgostosa.
A porta se abriu por um instante. Através dela uma menina_ fechou a porta e entrou. Acendeu a luz. tratava-se de uma moça linda e consigo trazia uma caixa com três ou quatro segredos reprimidos.
No canto da sala havia um espelho. A menina esgueirou-se em frente deste e, observando o seu reflexo, disse para si mesma: "Uma sala só para mim e meus distorcidos desejos."_disse isto e sorriu. Virou-se de costas para o espelho e foi em direção à caixa. "Aqui estou oculta de tudo e todos, posso me permitir fluir do modo que desejar" _pensou.
O que a moça não sabia é que não estava de todo sozinha. Enquanto se abaixava e abria a caixa em busca de seu primeiro desejo, abria-se também_ sorrateiro e pernicioso_ no espaço paralelo inverso do espelho, Ele _aquele que tudo vê_ o Grande olho. Discretamente, por detrás do espelho, (Ele) observava tudo sem piscar. Permanecia arregaladol e apenas a sua pupila se mexia à s vezes_ mudava de tamanho conforme ele focava numa figura ou outra.
Indiferente a qualquer outro estímulo, a satisfação do Grande Olho estava no simples contemplar_ fantasia do voyeur.
A moça já tinha retirado algumas coisas da caixa que trouxera. Parecia estar pronta para satisfazer o seu primeiro desejo.
Numa mão segurava uma metade de limão; na outra trazia um bacalhau salgado cru. Então, levando o limão a boca, mordeu-o com avidez. Sentiu todo o vigor de sua acidez por um instante. Degustou-o. Depois abriu a boca ao máximo e deu uma lambida no bacalhau por inteiro com todo aquele sal. "Azedo e salgado"_pensou consigo_ "tudo de uma só vez!" Chupou o limão mais uma vez e comeu um pedaço do bacalhau.
Logo mais ao lado o seu segundo desejo já estava preparado. Parecia ser uma bacia de metal cheia de carne moída crua. A menina deu uma última mordida no bacalhau cru e o jogou no chão. Levou as mãos à bacia e pós-se a amassar a carne.
Abria seus dedos ao máximo e pegava grandes porções da carne crua, apertando-as. Ia amassando com as mãos toda aquela carne moída como quem prepara massa de pão. Tripas de carne iam se formando e vazando por entre seus dedos. Um movimento repetido de apertar e esmagar.
Permaneceu ali envolvida com aquilo por vários minutos. Era uma experiência tátil automátca o suficiente para esvaziar a sua mente de todos os pensamentos. Naqueles instantes em que esteve envolvida ela só pensava em pegar mais carne e fazer mais tripas. Concentrava-se somente em sentir os seus dedos ali, deslizando e apertando a carne moída. Isso lhe dava o prazer naquela hora. Sentia o calor de seu corpo devagar sendo transmitido para a carne_uma interação energética.
A bacia como um todo já estava ficando morna; a carne com aparência homogênea. Era hora do próximo desejo.
Fascinado, o Olho tudo apreciava.
Da caixa a menina tirou outra bacia, mas desta vez algo parecia estar diferente. Dentro, não uma porção de carne como a outra, mas sim uma massa disforme e podre coberta de vermes. Tratava-se de carne moída em avançado estado de decomposição. Pequenos vermes cavavam minúsculos buracos na carne, entrando e saindo dela, uns por cima dos outros.
A garota se aproximou da bacia e com uma colher pegou um pouco desta carne pútrida e despejou algumas porções dentro de um saco plástico. Fechou o saco com uma das mãos deixando apenas uma abertura grande o suficiente para que ela pudesse colocar o seu nariz e inalar o conteúdo. Levou o saco à cara e ficou ali, inspirando e expirando o ar da carne podre. O saco murchava e depois se inflava em cadência peristáltica. O ar tóxico logo afetou a garota que, não resistindo aos fortes gases exalados pela mistura de carne e vermes, acabou vomitando.
De longe, além do reflexo do espelho, o Olho observava as atitudes infames da garota naquela sala isolada, quente e imunda. Ele degustava toda esta cena bizarra com prazer. Gostava de ver a menina sozinha ali, a fazer estas coisas sujas. Mal podia esperar para ver o que se seguiria.
Ela já tinha vomitado tudo o que conseguiu. Fez uma grande poça no chão. Agora, os espasmos já tinham parado e ela estava pronta para os próximos desejos.
Começou então a tirar a roupa até ficar completamente nua_ de dentro do espelho o Olho arregalou-se em êxtase.
Já despida, abriu a caixa e pegou um prato fundo colocando-o no chão entre suas pernas. Agachou-se sobre ele e, gemendo, começou a urinar. A urina amarelada caia como uma cascata áurea. Quando a o jorro cessou, eis que sobre a jovem sobreveio o mais profano dos desejos_defecar!
Não resistiu a idéia e, fazendo força, empurrou o marrom_ centímetro por centímetro_ quase num transe; olhos fechados. Ouviu o barulho aos suas fezes cairem mergulhadas no prato que transbordava de urina. Sorriu baixinho e pensou no que acabara de fazer _ tomara prato por penico! Riu-se. Hesitou por mais alguns segundos. Então, decidida, ajoelhou-se e ergueu o prato com as mãos_uma oferenda ao deus das moscas_ entornando-o sobre o próprio rosto. Com gana acolheu a coprófíla sopa de boca aberta.
Melada da cabeça aos pés, a fétida figura da menina tomava tons surreais, como a escultura viva da obra mais pérfida de Sodoma. Sensualmente então, abriu as pernas e engajou-se em intensa atividade masturbatória. Massageou sua vulva por alguns instantes_ perdida agora em outros devaneiros_ até atingir o orgasmo. Logo que gozou, caiu no mais profundo dos sonos.
O Olho estava saciado. O que acabara de presenciar foi bom por demais. Agora sim ele poderia fechar a sua pálpebra e voltar ao seu estado latente.
A menina continuou deitada, dormindo e sonhando metáforas de sua porca indulgência. O espelho refletia a sua imagem estirada no chão; ao fundo, a parede mofada em toda a sua vaga significància e mais nada. No ar, não havia rastros de culpa ou embarasso, afinal de contas tudo se resumiu numa simples sala abafada e suja_ o reflexo dos acontecimentos ali vividos não incidirá sobre o mundo lá fora.
Isso tudo numa sala coberta pela constante penumbra dos dias obscuros_ isso quando não era noite alta_ naquela estação do ano em que o sol incidia sobre o seu teto apenas durante umas poucas horas por dia.