Me desculpem, por favor, por não escrever a vocês longas e deliciosas cartas, desculpem interromper qualquer ligação ou laço que existiria invariavelmente entre nós. Todo esse amor que nasceria, morto ainda na barriga. Me desculpem por não responder e sequer corresponder à s suas expectativas e à s minhas aspirações que eu falo tanto delas, viciosamente, pra todo mundo, por puro desejo e paixão. Obrigada por todos os elogios que eu não mereço, que eu ando muito mais pra inútil do que pra fabulosa, mas vocês, damas e cavalheiros, me deixam em rubores e me abraçam como se eu fosse uma criança especial mesmo assim. Me desculpem por começar frases com o pronome oblíquo "me", quando o correto seria começar com o verbo "desculpem" e depois o hífen e depois o "me". Eu sei que tá errado. Eu sei qual é o correto. Sou errada porque quero, por inúmeras razões que ninguém jamais entenderia. Não declinem, não balançem a cabeça, não me reprovem. Me desculpem, por favor, eu querer ser torta e defeituosa (como só um humano pode ser) mesmo quando eu sei exatamente como deveria ser, como vocês gostariam que eu fosse. Fabulosa. Me desculpem por nem sempre ser fabulosa. Me desculpem por ser tão boba, chata e infantil de vez em quando. Eu sei que tá errado. Eu sei que eu não deveria. Me desculpem. Mas (outro erro, pois não se começam frases com interjeições como por exemplo "mas") me deixem ser, por favor, que eu não peço mais nada além do direito de ser. De ser gauche, de ser perdida, idiota, babaca, ou qualquer coisa, tudo ou nada, como todos vocês. Me desculpem, por favor, obrigada, com licença.