Gosto de filmes. Menos que de livros, mas devo admitir que cinema é uma arte admirável, junta a palavra e a imagem e é um tipo de leitura muito interessante. Tenho tido oportunidade de assistir verdadeiras obras de arte em se falando de filmes graças a boas indicações e a sensibilidade do dono da locadora.
Não me atrevo a fazer comentários profundos sobre cinema.Considero-me incipiente no assunto. Mas como cronista, Ã s vezes bate aquela vontade de comentar algum específico e fazer alusão ao nosso cotidiano.
FALE COM ELA. Quer um título mais despretensioso, mais singelo, e sem apelo comercial?
Fale come ela: Com a sua alma, com a sua filha, com a sua família, com a sua amiga, com a sua dor, com a sua vida.
Nada de superficial, não é? Bastam algumas palavras para percebermos isto. Assim é o filme Fale com ela do polêmico diretor Pedro ALMADÓVAR. É dele também o filme "Tudo sobre minha mãe". No mínimo instigante. Acho que ele é um diretor de amor e ódio. Alguns o amam, como eu, outros o odeiam. Aí vai da liberdade de sentir de cada um. Afinal acho que esta liberdade ainda nos resta.
Não foi o filme que me fez escrever uma frase com um pouco de amargura, mas ele me fez refletir sobre muitas coisas.
Como o mundo pode ser simples e como a gente complica tudo.
Como somos dependentes da ditadura do consumismo.
Como temos facilidade de julgar, e, pior, sentenciar os outros.
Como às vezes somos duros e exigentes com a gente mesmo.
Fale com Ela é um filme forte, mas terno. Uma história de amor de uma via só que salva uma vida e condena outra. Depende do gosto, mas acho que vale a pena assistir.
Fiquei pensando: por mais que a gente tente tirar os espinhos da vida dos nossos entes queridos, é inevitável, num determinado momento esbarrar-se com ela. Com quem? Com a dor.
Ela está numa esquina qualquer.
Em cima da ponte, embaixo da cama, num corredor, na beira da estrada ou dentro de nós...
E aí nos resta encará-la.
Como elaborar uma perda, uma traição, uma decepção, uma doença, uma injustiça?
Como encarar a dor e como tratá-la é que faz os seres humanos diferentes. Alguns saem mais fortes, outros amargurados, outros mais céticos, outros com mais fé. Digo saem, porque ela é um encontro à s vezes para a vida toda, à s vezes só por um tempo.
Mas persisto na minha crença. Estamos aqui para escrever uma história. A mais singela, a mais importante, mas a nossa história. Sempre fazemos a diferença na vida de alguém. Isso deve ser maior que qualquer encontro com a dor, afinal assim é que sobrevivemos.