Se de alma me lês, embora por meio algum possas comigo comunicar, com tantos anos de atraso, decidi finalmente revelar perante tua memória quanta admiração e estima tenho por ti. Desde os primeiros anos do liceu que te tenho uma especial atracção, maugrado os ímpios castigos de perfeitos e professores que velavam pelos meus saberes a zero sobre matemática e físico-quimica.

Nos bons e maus tempos de estudantezinho, quando estava internado num colégio liceal, para gáudio dos meus sessenta companheiros de martírio, quando o director vinha ao refeitório aos sábados à noite ler as notas que permitiam ir ou não a casa ao domingo, o dolorido momento caía como brasa em meu cérebro:

- Nº. 26, António Torre da Guia... Estudo... 4 - Atenção nas aulas... 6 - Comportamento... 4 !

A malta explodia à gargalhada. Num máximo de 20, aquelas classificações eram o piorio. Os poucos domingos que fui a casa durante o tempo escolar, devi-os a concessões de favor e a pedido de meus pais. Todavia, em exames a sério, passei nas provas escritas e dispensei às orais no 1º. e 2º. ciclos, um autêntico espanto que na altura fulcral inundava de estupefacção a cambadazinha que me vaiava: como foste capaz, Torre?!...

Oh... Caríssimo Einstein, ainda agora estou arrepiado só de olhar para os caracteres algébricos que por trás de ti estão no quadro negro. Vêm-me logo à ideia as decepcionantes cenas do propositado humilho dos meus amigos do caraças, que me davam palmadinhas nas costas durante cinco dias e passavam dois a rir-se de meu infortúnio.

Mas de ti e por ti... Einstein... Logo que trepei à altura de meu pai, em lugar de números saíram-me letras:

Um padra... Uma flor...
O mais pequeno ser vivo...
Um pedacinho de amor...
Tudo-tudo... É relativo!...

E é caro amigo, companheiro espiritual e acessor inspirativo, tudo-tudo é relativo... Tão relativo... Que nem avalias como as relações andam cá por baixo... Gente boa, cem por cento humana, bondosa e carinhosa, empreendedora, gente amiga de se dar até ao extremo limite, fazendo instantemente o bem e espalhando solidariedade. Eu é que, hoje como dantes, continuo a ter más notas... Mas tenho uma fé imensa de que espantosamente, desta como das outras vezes, vou passar.

TORRE da GUIA = Portus Calle