Tião, o ascensorista. Ele e o seu mágico sorriso mulato, as palavras brotando rápidas de seu espírito arguto. Naquele prédio comercial, era mais do que um simples funcionário, a postura carismática arrebanhando discípulos afetuosos.
- E aí, Tião? Tá rindo à toa, heim? Também, montado em dinheiro...
As frases dos transeuntes eram repetitivas, mas sempre despertavam alegria nos ocupantes do elevador. A reação festiva não se reportava à criatividade do brincalhão, mas ao carinho que todos queriam proporcionar ao antigo cúmplice daquelas curtas viagens verticais. Inúmeros anos de convivência na tranquila acolhida aos profissionais que chegavam para mais um dia de trabalho.
- A doutora tá bonita hoje que tá danada, só!
- Que nada, Tião, são seus olhos!
- E a criançada? Já botaram fogo na casa, aqueles danadinhos?
Devido aos inúmeros acontecimentos diários, o tempo impede que percebamos como ele flui apressado. Insensível, faz com que nos desviemos de lugares, antigos desejos e afetos profundos.
Hoje retornei ao velho prédio, do qual fui frequentadora assídua no passado. Abriu-se a porta do elevador, eu ostentando um dos mais francos sorrisos de que já fui capaz. E veio o vazio!... A decepção envolveu a cabine oca, o banquinho do Tião dobrado em direção à parede do elevador. No teto, uma càmera monitorava os passageiros.
- Por favor, o ascensorista... Não está mais aqui? - perguntei ao porteiro.
- Ah, o síndico mandou embora pra cortar despesas!
O Tião se foi! Eu também, mais uma vez, partia... O mundo dividia-se em pedacinhos, assim como uma das minhas referências de vida. Onde estaria o divertido companheiro de trajeto, espelho no qual ficavam refletidas as minhas angústias e alegrias cotidianas?
- Vai chover hoje!... Veio preparada? - diria ele agora.
Não, Tião!... Creio que nunca se está preparado para perder um magnífico tempo ensolarado...