Olha, vida de caixa de som é meio complicada mesmo. A gente tem de ter uma auto-estima considerável pra aguentar os desaforos. Poxa, quem é gosta de ser definida pela companhia ou não de suas amigas? Se somos duas, nos chamam de histéricas (ou será "estéreis"? - nunca entendi direito), se estamos sozinhas é pior: macacas! E não vem com essa desculpa não, que eu entendo espanhol! E se andamos em grupo? 4.1, 5.1, 7.1... Nem nomes recebemos mais, fomos reduzidas a meros números...
Como é que eu sei espanhol? Oras, já escutei muito Aterciopelados e Café Tacuba, não tinha como não aprender. Ah, é verdade, ser caixa de som tem suas vantagens. Eu mesma aqui, sou poliglota, sabia? Falo alemão, espanhol, inglês, japonês, francês, italiano, russo, português... Meu mestre tem um gosto diversificado.
Eu acho mesmo é que tive sorte com meu mestre. Fiquei sabendo de uma companheira que trabalhava numa casa de brega. Tadinha, dizem que estourou de tanto desgosto! Por aqui, algumas reclamam um pouco, dizem que cansa ficar falando alto demais muito tempo. Eu não. Levei um tempinho, mas me acostumei. E sabe de uma coisa? Eu adoro! Gritar é uma ótima terapia pra liberar o stress, sabia? Quando o mestre está em casa eu grito o tempo todo, o mais alto que consigo.
Sem querer me gabar, eu não sou uma caixa de som comum, sou de computador. Isso pode não dar status, mas diversifica o trabalho. Sei que tem caixas por aí que só ficam cantando, outras que só tocam guitarra ou narram jogo de futebol. Tem até umas viciadas em novela. Eu não! Canto, grito quando um monstro se aproxima no joguinho do mestre e faço até "pou, pou" e "boooom"! Mas sabe do que eu mais gosto? Quando o mestre assiste filme, eu me sinto uma verdadeira contadora de estórias.
E por falar no diabo, lá vem o mestre. Ei, quem é essa moça que está do lado dele? Não! Ela não! A vizinha! Mestre, por favor, não deixa ela pegar no mouse! De novo não! Ai, tarde demais... "Hit me baby, one more time!"
