Devo ter perdido as aulas que ensinavam a crer em homens e mulheres. Admito, não aprendi bem.
Mas conforta-me saber que aprendi a crer no Supremo Criador. Melhor crer Nele.
Talvez por isso me recuse a tripudiar nos restos de vida atirados ao chão pela tempestade ou pelos ciclos que o tempo impõe. Folhas mortas, galhos secos, sobras do outono ou prenúncios da primavera... Tudo tem seu valor e sua função.
Se galho fui, seja abençoado o tronco que me sustentou.
Se tronco era, sejam abençoados os galhos e folhas que se prendiam a mim. Mais que dejetos inúteis, são partes naturais de flores, frutos ou perfumes que foram -- e voltarão a ser um dia, pelas sábias leis da transformação.
Os que cruzaram minha vida foram importantes e agradeço-lhes por isso. Ensinaram-me e aprenderam. Enriqueceram a mim e a si. Fizeram-me crescer e cresceram comigo -- e se disso não se dão conta talvez devam crescer mais.
Não sei se me amaram muito ou não. Digo que sim. Descrente, diria talvez.
Mas alguns foram amados, mais ainda quem busquei, escolhi e elegi com orgulho para florescer comigo.
Depois de tudo, se lhes restou ingratidão e revolta, confessarei minha tristeza. Machuca porque sou humano. Dói porque aqui tem sensibilidade. Fere porque existe coração.
Mas posso agradecer, ainda que chorando. Porque muitas vezes é na dor que cresço... e nas lágrimas navego.
São os golpes injustificados que engrossam o couro, exercitam o espírito e ensejam a dádiva de poder escolher entre o rancor obtuso e a grandeza da tolerància e harmonia.
Sejam iluminadas as mentes com as quais dividi minha vida. Sejam felizes os corações onde, com esperanças, uma vez sonhei habitar.
Que o Senhor os proteja do escuro, mostrando-lhes o caminho da elevação. Que os poupe do desespero das escolhas precipitadas. Que os exima do ódio e rancor que outros, sem saber, gostam de lhes instilar. Hão de progredir e se aproximar cada vez mais da felicidade e do dom da gratidão.
Longe de presunções de grandeza e beatitude, porque sei das fraquezas e vícios que ainda me perseguem, posso dizer que me faz bem responder à ingratidão com compreensão. Quero retribuir ao rancor com fraterno amor. Recolher palavras de ira um dia disparadas pela explosão de sentimentos revoltos, declamando em seu lugar minha prece redentora.
Quem comigo um dia se lançou em longa marcha de planos e esperanças será sempre alma querida. Hei de tê-los em grande estima, invocá-los no retiro das orações e conservá-los ao alcance da minha capacidade de compreender.
