Já ouviu dizer que se deve matar a Saudade?...
Não, eu peço, não a mate. Ela é o sentimento mais próximo do amor. Confundida com o seu companheiro à s vezes, porque tanto se parecem que muitas e muitas vezes se fundem nesse emaranhado simpático de confusões no coração de quem ama. Porque mesmo que o Amor esteja perto é preciso que haja pelo menos um pouco do espírito de Saudade pra que ele sobreviva...
Já sentiu saudade de alguém que está perto?...
Isso é um sintoma. Bom ou ruim...
Bom, se você ainda puder compartilhar com este alguém, daquele sentimento que um dia surgiu não se sabe como. O sentimento que envolveu tanto uma como outro (Amor e Saudade), num halo benfazejo de sentimentos em cadeia que, como numa concepção gerava outros filhos parecidos... Como se a alma estivesse concebendo e parindo a essência do que eleva o espírito a caminhar cada vez mais as alturas que somente o Amor pode mostrar.
Ruim, se esses momentos voltam ao coração como uma punhalada de um desejo incontido, mas inconfessável. Ruim, quando se tornou difícil o estender da mão, e quando o braço endurecido do desamor parece fazer emperrado o membro que deseja fazer gesto que não faz... Ou se a palavra vem pesada como um arrastar de anos de um paladar seco, e o silêncio é tão constrangedor como a noite do medo.
Mas mesmo se a saudade é ruim, há algo aproveitável dela, porque quase sempre um e outro estão justamente esperando um gesto que não tem forças pra fazer. Pode ser que um espere ouvir do outro a palavras que está calada no deserto do seu próprio coração... Pode ser que esta saudade possa ainda ser um sinal a mais que o próprio Amor conserva da sua semente eterna incubada...
Não, não mate a saudade...
Aviva-a como quem acende uma fogueira em dia de frio, porque há indícios de que nesse monte de cinzas adormecidas haja brasas vivas precisando de um vento, uma brisa, um assopro...
Não mate a saudade eu apelo mais uma vez...
Se ela morrer, é provável que você morra junto... É mil vezes melhor ter saudade que fastio. E não existe saudade nos corações enfastiados... A saudade alimenta o Amor enquanto o fastio teima e querer que ele morra de fome. A saudade derrama o vinho de vida na boca do Amor enquanto o fastio deseja que ele morra de sede...
A diferença entre a Saudade e o Amor, é que você pode mesmo sufocar uma, enquanto o outro que é eterno foge pra longe, e ocupa seu lugar um pouco mais adiante e mais acima... Mas lá, nesse lugar elevado, fará sempre que outros o abracem e comecem sentir saudade, repetindo pela enésima vez o mesmo milagre...
Não mate a Saudade, porque estou desconfiado que ela ama o Amor...
É ela quem faz com que o ele seja presente quando longe...
Já sentiu saudade de quem jamais viu?... Isso é um mistério...
Foi dito com propriedade que Deus é o Amor. Só conhece-O quem tem saudade dele quando perto... Só o procura quem já o encontrou no meio desta distància indefinida... Só está perto Dele quem a Saudade invadiu gostosamente esse espaço onde antes habitava o vazio... Que mata a Saudade. Há uma guerra dentro de você. Ou a saudade mata o vazio, ou este mata a Saudade... A morte dela é o vazio, a indiferença da frieza...
O caos... Matar a Saudade é o caos...
Atenção, urgente!... Não mate a Saudade, porque me pareceu nesse momento que a vi de braços dados, trocando beijos com o Amor... Não tenho muita certeza que vi, mas vias das dúvidas, não mate a Saudade...