São as duas da madrugada. Um avião passa pela minha insónia. Espaço aéreo é isento de aviões depois das onze da noite - até as seis da madrugada. Como é que este avião ronca deste jeito, quase roçando as copas das árvores, num rosnar de leão faminto, farejando o ar?
É avião de guerra. Atravessa as nuvens à hora que quer, porque a fome de gente não espera e desperta toda a população no caminho do avião.
Ele lá em cima, nós aqui embaixo. Ele não nos ouve, mas nos vê. Nós não o vemos, mas o ouvimos.
Avião vai pra guerra. Vai pra guerra, avião?
Pra quê, se "lá" já tem tanto canhão? E tanto caixão? E tanto arrebentado coração? Que despencaram sem sequer uma oração?