A cada vez que o comércio começa sua campanha de celebração de um dia (Dia das Mães, dos Pais, dos Avós, dos Namorados), lembro-de uma véspera de Dia dos Pais. Eu estava no Rio, hóspede de uma amiga. Na TV, aparece a mensagem: "Feliz Dia dos Pais" - e logo em seguida, outra mensagem: "Para aqueles que o merecem." - Fiquei surpresa com a franqueza, adorei a mensagem! Nunca tinha visto algo assim tão verdadeiro, tão na mosca, como a tal mensagem. Fazia-nos distinguir os pais, nos levava a quebrar o mito, a fábula que joga com a idéia de pai-fabuloso, pai-amigo, pai-legal, paizão - como se todos os que tiveram seu sêmem vingado no corpo de uma mulher fossem automaticamente elevados a pais dignos de ser reverenciados num dia exclusivo para eles...
Infelizmente a mensagem nunca foi repetida, segundo me contaram, ao perguntar, pois minha visita ao Rio foi breve e meus outros breves retornos se deram em época diferente de tais celebrações.
No entanto, aquela mensagem me transporta para o Dia das Mães (em Portugal, "Dia da Mãe"), que se celebra no mundo ocidental no segundo domingo do mês. - Todas as mães merecem ser celebradas, homenageadas, paparicadas? Devagar com o andor.
Há mães sádicas, perversas, indomáveis, que deixam as madrastas da Branca de Neve e da Gata Borralheira de queixo caído... Há mães que castigam seus filhos por nada em absoluto, só para que nem sequer cheguem a pensar em fazer algo que elas acham que seria errado.... prevenir é melhor do que remediar, segundo elas. Há mães que, se não chegam a agressões físicas, alimentam tal ultraje e baixa-estima nos seus filhos, que criam aleijões psicológicos para o resto das vidas das crianças, que nunca vão deixar de ser as crianças alvejadas, ainda que adultas, casadas e também progenitores.
Mães sádicas, perversas, indomáveis... tiveram filhos pelo encontro sexual, não por alimentarem um prazer em orientar o crescimento de alguém para o bem, para a justiça, para a beleza da vida.
Mães sádicas, perversas, indomáveis ... que vêem nos filhos apenas objetos de sua maldade congênita. "POrque eu também fui mal tratada", foi o que ouvi de uma dessas mães. Como se fosse impossível quebrar a corrente de maus tratos. Claro que é possível. É só ter uma forte boa vontade.
Ser mãe não é sofrer no paraíso, como disse o poeta romàntico e idealista. É fazer o seu paraíso ou o seu inferno - e transmitir tudo isto a seus fihos.
Feliz Dia das Mães - para aquelas que o merecem. E serão seus filhos que dirão se o merecem ou se, não o merecendo, ainda assim lhe desejam felicidades - porque as perdoaram.