A música me transporta para os longes do tempo, leva-me a percorrer os caminhos da meninice. Fecho os olhos, meu Deus, como faz tempo e, ao mesmo tempo, como parece ontem.Os vultos perpassam na minha mente, cruzam os meus olhos com tanta nitidez que nem parece que estou com os olhos cerrados.
Os amigos estão bem ali, mesmo aqueles que já se foram. E riem, e falam alto, e tiram brincadeiras como antigamente.
E vêm os pregões: Doce gelado! Macaúba! Olha a panelada e o fígado gordo! Correio! Povo! Cioba! Ariacó!
Tantos, tantos, tão dolentes, tão bonitos. E a cidade os perdeu para o ronco dos motores dos ónibus barulhentos, para os supermercados que mudaram os hábitos de consumo, para os centros comerciais, batizados de shoppings, porque agora tudo e em inglês.
A música continua... e eu envolto em meus pensamentos... e o tempo veloz voando nas asas do pensamento que segue em disparada pelos longes do tempo, pelos longes da solidão, pelos longes da vida que faz piruetas como um pião que bambeia no chão do passado, na palma da mão do menino-homem que se comove com as saudades...