SONHOS DESFEITOS
Eu não era inocente e nem um garoto que não sabe o que quer torci desesperadamente pela vitória de Lula contra Collor nas eleições de 1989. Eu acompanhava os programas eleitorais do PT como se fosse uma partida de futebol, tal qual um jovem fanático torceria num clássico entre Corinthians e Palmeiras. E me recordo, como se fosse hoje, do momento em que entrei trêmulo na seção de votação, peguei a cédula (naquela época a votação ainda era manual) e fui assinalar o xis. Meus olhos brilharam e quase não pude conter as lágrimas tamanha emoção. Era como se com aquele voto fosse capaz de mudar o mundo.
Mas Lula perdeu a eleição e sofri a maior derrota eleitoral da minha vida. Era apenas a terceira vez que eu tinha a chance de escolher um candidato (a primeira fora dois anos antes para prefeito e a segunda no primeiro turno daquela eleição) e meus sonhos se desfaziam.
Se já era difícil suportar a derrota de meu candidato, aguentar toda a minha família que votara em Collor só me fazia ficar mais sentido. Assistir a posse de Collor então, foi como assistir o time adversário levantando o título de campeão sobre meu time. Mas não pude deixar de sentir uma pitada de vingança quando a ministra Zélia Cardoso anunciou o confisco de dinheiro depositadas em contas correntes e aplicações financeiras.
Depois veio a crise política e a queda de Collor. Ah! Não teve um petista que não bradasse:
-- Bem feito! Quem manda não saber votar.
Então veio o Plano Real e as eleições de 1994. E mais uma vez a decepção. E dessa vez não houve confisco, nem escàndalo para que nos sentíssemos vingado. Tudo bem que a derrota foi compensada com a eleição de alguns governadores, todavia o sonho tinha sido adiado mais uma vez.
Em 98 foi outra decepção. Mas sabíamos que o partido avançava aos poucos para se tornar um dos maiores partidos do país. E se perdemos aquela eleição, na próxima teríamos muito mais chance. E as eleições de 2000 confirmaram isso. Nunca o PT elegeu tantos preitos quanto naquele pleito.
Então vimos Lula costurar uma aliança política para ganhar a eleição. Alguns petistas como eu ficaram meio assim com as alianças que Lula fazia, mas, se fosse para levar a presidência, valia o sacrifício.
E bem antes das eleições era possível ver que aqueles que nunca votaram em Lula estavam dispostos a lhe dar uma oportunidade. Na minha família mesmo, alguns iam finalmente votar no Lula.
Não sei se era porque eu já não era mais um jovem idealista, ou porque já me habituara a comparecer bienalmente à s urnas, mas a verdade é que não sentia mais o mesmo entusiasmo de 89. Mesmo sabendo que a tão sonhada vitória de Lula estava tão próxima, ainda sim faltava aquela emoção de uma final inédita de campeonato.
A eleição acabou e finalmente o PT estava no poder.
Isso já faz quase dois anos. E eu não sei se foi o mundo que mudou, se foi o PT que mudou, ou se foi eu quem mudou, ou se foram nós todos que mudamos. A verdade é que aqueles sonhos que eu tinha em 89 e que imaginava que se realizariam quando o PT fosse governo não se concretizaram. Não que o PT esteja fazendo um governo ruim, pelo contrário, está superando as expectativas; mas meus sonhos se perderam ao longo dos anos.
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