- Titia, olha como eu sou cara-de-pau!
Vivos olhinhos azuis, sorrisinho maroto, inicia em voz alta, a leitura da cartinha que acabara de rascunhar:
- "Querido Papai Noel! Eu gostaria de lhe dizer que fui uma boa menina esse ano..."
Levanta os olhos, aguardando um comentário. Sorrio. Ela prossegue:
- "... e queria pedir que você trouxesse um jogo chamado Uno que vende em uma loja do Shopping Internacional que se chama Firolli..."
A leitura continua, agora com um pouco mais de ênfase:
- "... e também trouxesse a Barbie Super Fashion..." etecetara... etecetara... etecetara...
Ouço atentamente a descrição dessa super boneca:
- "Se você não achar essa boneca de cabelos castanhos, não traga e sim traga uma Susi que vem com um celular de mentira."
Segreda-me:
- Titia, o celular não é de mentira. Ele não serve para falar, mas passa mensagem.
Reflito sobre a importància de omitir esse detalhe do Papai Noel, afinal se ele achar que o celular só serve para ser usado no modo "faz-de-conta" a chance dele dizer não logo de cara torna-se menor.
- "Se você não puder comprar os dois traga só a boneca."
A essa altura negociar é o mais sensato a fazer, mesmo que as vantagens continuem a favor dela. A carta ainda se alonga por mais dois parágrafos e outros tantos itens. São segundas, terceiras, quartas opções. Mochilas assim e assado, com tais e tais detalhes, cores, brilhos e acessórios.
Fico a imaginar a perna que Papai Noel terá de bater para atender ao pedido e o quanto isso pesará no seu cartão de crédito.
- "Muito obrigada por me ouvir. Beijos, Mariana."
Ufa! Terminou.
Faço-me de advogada de defesa de Papai Noel e aplico um golpe baixo:
- E aí? Trocaria tudo isso pra ver a nonna saindo do hospital?
Ela sorri, otimista e esperançosa:
- Lógico que sim!
- Então, faça outra carta e peça ao Papai Noel para que a nonna sare logo e volte para casa.
Ela reflete por segundos e responde convicta:
- Titia, mas isso eu tenho que pedir para o Papai DO CÉU, não para o Papai Noel!
É... Papai Noel, eu tentei...
Boba ela? Boba eu!