A crónica "Maria Goretti", do colega Aulow Randap, me fez lembrar o mesmo filme - já estava arquivado no fundo do arquivo da memória. Mas eis que, sem o saber, o autor da crónica me mandou a chave e, de repente, revi of filme que tinha visto quando era menina-moça.
O filme me impressionou muito. Primeiro, porque fiquei conhecendo a tenacidade de uma mulher, na defesa dos seus direitos de permanecer virgem. Depois, sua disposição para antes morrer do que ceder. E, paralelamente, fiquei impressionada com a irrefreável sofreguidão sexual do italiano que a quis, porque quis.
E foi, talvez, na minha idade vulnerável, o que mais me impressionou. Voltei pra casa pensando nos meus vizinhos italianos, todos eles bem arrumados nas suas casas, na minha rua. Classe média modesta, dando o melhor de si para "subir na vida" - pacatos cidadãos que ainda falavam mais italiano do que português, muitos eram pais de meninas que iam à escola comigo. Será que eles eram assim em casa, tarados pelas mulheres? Minha imaginação me amedrontava - e se eu passasse por aquela casa onde havia um cipreste e o homem estivesse escondido atrás do muro? Era um pai jovem, reparei que jogava um olhar malicioso para os peitos das meninas que iam estudar na casa dele com a filha.
De repente, aprendi, com o filme, duas coisas - que a moça virou santa por ter preferido morrer a se entregar; que homem italiano é tarado.
Daí fiquei olhando para o mundo de maneira bem desconfiada - santas são aquelas que não cedem, e aquelas que cedem, então o que são? E tarados são todos os italianos...
Voltando ao filme - agora o percebo como versão cinematográfica da história do Chapeuzinho Vermelho, com um lobo mau espreitando a italianinha e ....
O filme foi um sucesso extraordinário - exibido em todos os rincões do Brasil. Não sei de outros lugares mais, mas imagino que na Itália deve ter recebido a mesma aclamação - afinal, foi feito lá.
Maria Goretti - levei muito tempo para me desfazer das impressões que o filme me deu. Levei tempo para concluir que os italianos não são tarados - embora um e outro, chi lo sà ... - e que mocinhas que não cedem não ganham santidade. Pelo contrário, são marcadas pelas coleguinhas e mais ainda pelos colegas, como "santa de pau oco". (Aqui entraria um bom trocadilho, mas me desvio.)
Nada mais a acrescentar - o filme foi de perturbar, principalmente para uma menina-moça em período de formação.
O que não esqueci tampouco - agora que lembrei do filme - foi da paisagem austera, seca, cor de giz branco, infinitamente severa. Paisagem física e também a humana.
Pobre Maria Goretti - pobres de nós, meninas-moças, que ficamos tão perturbadas pela vida estóica - e morte heróica - da moça que morreu menina.
---
E.E.