Depois que o amor entoou um canto para o coração da alma, jamais houve esquecimento desse instante... Então o eco do canto não parou de ressoar por todos os dias dos seus mais belos dias...
Porque mesmo que pareça silencioso, e ainda que se mostre mudo, haverá um instante que quando menos se espera - ou mesmo que se pense que não - surge sem que se saiba de onde a voz repetida no mesmo tom, no mesmo timbre, no mesmo amor enfim, cantando, e cantando, e cantando...
E a melodia que parecia esquecida ergue renovada (como o são todas as melodias celestes), cantada em fortíssimo pelo coro dos anjos, e haverá (ainda de novo) um estremecimento de alma, e uma alegria de paraíso, e também um descanso de sábado eterno, e um sorriso e depois um riso de anjo, e dois, e três, e muito mais...
Quando o amor diz uma palavra ela será eterna...
E haverá um ecoar também eterno dentro da alma (como um silêncio de uma sementinha incubada) do coração que a ouve...
E mesmo que todos os ouvidos se façam surdos, e todas as vozes se calem, e todos os sons pareçam sem sentido; e sem mesmo saber como, e sem que tenha explicações, e sem que algum vidente possa prever, ou um profeta anunciar, eis que tudo se repete...
E de repente a palavra volta ao paladar da alma como um gosto de alimento novo, até que ela sinta novamente o sabor... E não mais sinta estar no deserto, e não mais tenha pesadelo de sede, e não mais sonhe com agonia de solidão... Porque eis que nesse dia, quando menos se espera, quando nem mais pensa que sabe o gosto da palavra, e quando até pensa que morreria da fome que mata a todos os que não conhecem o amor, volta tudo ao prato do amor no banquete do coração, e farta, e alegra, e sorri, e ri, e ri, e ainda mais uma vez ri...
Quando o amor cala o canto que cantou, e cala também a palavra que disse, haverá uma eternidade no eco de todos os sons... Porque o amor não cala jamais...
Se a voz que diz ser o amor se calou totalmente é porque provavelmente ou não era, ou está esperando seu tempo... Porque se for, voltará dentro do coração da nossa alma, como o eco de um banquete eterno...