Por que teria o Mestre recomendado aos discípulos que não jogassem pérolas aos porcos? Afinal a Boa Nova, as novidades de vida, não são para todos? Na verdade, a resposta poderia ser sim e não. Sim, porque todos merecem a mesma chance e, como se diz, o sol nasce para todos. Não, porque como o receber verdadeiramente as boas notícias, as profundas novidades, depende da vontade de cada um, alguns a recebem e aceitam suas implicações, enquanto outros até as ouvem, mas não se interessam pelas consequências, já que algumas delas exigem mudanças drásticas e doem. Sim, porque o verdadeiramente novo dói e desinstala. Assim é tudo na vida, cada um escolhendo seu caminho e, consequentemente, criando seu futuro. Sim, porque nada "cai do céu" sem ter um nadinha de causa. Hoje estamos criando o amanhã. Não que causa e efeito estejam ligados linearmente e tudo seja determinístico em função das causas, das atitudes. Porém, há uma conexão entre causa e efeito, mesmo que não-linear, e mesmo que deva ocorrer dentro do inesperado e do imprevisível. Quem despreza as pérolas, por exemplo, terá consequências desse ato, a começar da lentidão em sua evolução. Que pérolas são essas, dirão os mastodontes? Isso é pérola ou é lixo? É um ponto delicado mesmo, já que há muitos "profetas" que querem e insistem que seus dogmas castradores sejam enxergados como pérolas, sugerindo que os mesmos tenham sido ditados pelo próprio Mestre. Alguns até foram, mas são interpretados pelos profetas à sua maneira. Auscultem, pois, perscrutem seus corações no mais sutil dos silêncios ao duvidar e não saber a quem dar ouvidos quando os "profetas" falarem, sejam eles das mais diferentes religiões ou das mais famosas universidades. Então, o Espírito falará, o do cosmos, o das flores e florestas, o do luar que sucede o equinócio ou o seu próprio Espírito, aquele que você sabe que não mente e não perece jamais. E você saberá disso sem fazer contas em calculadoras, sem consultar manuais ou o livro do Halliday, ou ainda aqueles professores tidos como "bam-bam-bam" do pedaço só porque já são doutores ou porque dizem que sua prova "é foda mesmo" e só assim conseguem prender a atenção dos alunos. Algo semelhante ocorre quando você, um professor que se pauta por Heisenberg, Prigogine ou Bohm, quer introduzir algo novo em suas aulas numa disciplina nova que tem tudo para crescer e merecer estar incluída na relação de disciplinas de uma educação libertadora de Paulo Freire ou Edgar Morin. E quando você investe tempo e energia nessa sua meta, os profetas da mesmice lutam pelo contrário, infiltrados que estão nas mentes sadias, insistem sorrateiramente na perpetuação do jurássico, como o mal que grassou pelas sombras e instigou a multidão a escolher Barrabás. Daí é que vem a intriga que se transforma em questionamentos que colapsam como um pedaço de bosta jogada no ventilador no meio de uma aula prática: "Mas você não vai usar os "novos" equipamentos em nossas aulas?" Ou: "Onde estão os "novos" aparelhos dos laboratórios, aqueles que foram comprados?" Ou ainda: "E as práticas da Física Clássica, aquelas de jogar bolinhas no chão, lançar projéteis em parábolas ideais ou aquelas do pêndulo simples?" "Isso porque Física só existe uma, aquela que todo bom curso oferece, que está no Halliday e no Tipler. O que não está aí, não é Física, meus grandes mestres já disseram. Afinal, Física é sempre Física, a de Newton, Galileu e Descartes, a do tempo reversível e da entropia máxima que mata todo mundo. E mais: para o curso ser bom, não pode pular e nem trocar uma vírgula do que está no programa, porque o conteúdo é sagrado, o mais importante do curso. Criatividade, nem pensar. Prigogine não é Físico e Morin muito menos." Então, o professor que faz um esforço contínuo para atualizar suas aulas, oferecendo-as aos alunos com o maior prazer e alegria, acrescentando os avanços mais recentes da Nova Física, a Física do novo milênio que usa Prigogine, Morin, Capra e tantos outros, fica a perguntar: Será que os urubus não sabem que a letra é morta? Se não sabem, será que as palavras do Mestre não estariam sendo dirigidas a mim neste momento? Ou seja, será que devo continuar jogando pérolas aos porcos?