Em todas as culturas do mundo, não há quem não conheça ou precise dos transportes coletivos. Aqui mesmo, em Recife, milhares de pessoas saem do conforto caseiro para se aventurar em tais transportes. O ónibus é de longe o mais comum desses valentes desbravadores das mais longínquas regiões urbanas (que por mais estranho que pareça, ainda incluem o Janga e Barra de Jangada...), o que me remete a uma pergunta: ora, por que diabos "buzão"? Quando se fala em um "buzão", que cena vem a sua cabeça? Um transporte cheio de gente, o povão transpirando, aquele menino ali grudado na traseira pela parte de fora... e o pior de tudo: os tocadores de pandeiro da avenida Caxangá!
É uma imagem cruel passada pelo nosso dia-a-dia e pela palavra tão intrinsecamente sem significado: "buzão". Seria melhor substituí-la por outra? Talvez alguma coisa que colocasse um pouco de sentido naquele sinistro aglomerado de carne humana? Não, "ónibus" também não faria sentido, apesar de ser menos chula que "buzão", ainda é uma palavra sem o senso poético que a situação merece... Por que não procurar então uma palavra melhor em outra língua? "Bus"? Que parece...?
- Vais de quê pra faculdade?
- Vou de bus!"
- De que????
- Bus!
- É a sua!!!!
Hum... É... Eu também não consigo imaginar alguém dizendo que "ali é o ponto de bus "... Já sei! O espanhol, por sua semelhança com nossa língua nativa talvez possua uma palavra mais apropriada! Deixe-me imaginar a cena:
O pai e a mãe assistem televisão na sala quando passa o filho:
- Tchau pai! Tchau mãe!
- Vai pra onde filho? - Pergunta a mãe, sempre preocupada.
- Vou pegar uma buseta!
- Mas a essa hora do dia?!?!?! - Falaria o pai espantado!
Ou o que é pior, o pai, ao invés de se espantar, poderia se exaltar um pouco e dizer:
- "Oba! Posso ir junto?"
Desnecessário explicar que o casamento deles nunca mais seria o mesmo depois dessa cena...
Pensando bem, é melhor esquecer esse negócio de palavras estrangeiras... Mas claro! A palavra ideal já está no nosso tradicional dicionário: "coletivo"! Sim! Isso muda tudo! Imagine: num coletivo os passageiros não serão mais simplesmente gente num transporte lotado! Eles serão irmãos sociais compartilhado um momento de integração!
O transporte, em si, não mudaria nada. O que mudaria seria o sentimento que ele traz consigo! Ao invés do tédio, raiva, cansaço e calor proporcionados por um "buzão", um "coletivo" traria integração, troca de idéias, um happy hour do trabalhador braçal. Seria um lugar onde ele encontraria os "da categoria" para um bate papo no fim do expediente. E apesar da temperatura continuar a mesma, ela não seria mais um simples calor, mas sim um calor humano! Todos como irmãos compartilhando o mesmo coletivo após um árduo dia de trabalho...