Ao sentir as primeiras gotas de orvalho se evaporarem aos raios do sol, a rosa abre os olhos. E se depara com o rouxinol morto preso aos espinhos de sua cama. E pensa:
-Puxa, ele foi atraído pela minha beleza. Coitadinho do passarinho.
Mas pensar não significa refletir e assim ela não percebe que ali, ao lado dela, não apenas um corpo morreu, mas morreram esperança, admiração, respeito e amor.
Assim é nossa vida. Machucamos nossos semelhantes e não semelhantes baseados na beleza e na feiúra, na riqueza e na pobreza, no sucesso e no fracasso, na religião e na heresia, na juventude e na velhice.
Dissonàncias, discrepàncias, dogmas. Tanto faz você valorizar mais o cognitivo em detrimento ao contemplativo.
O que importa é que amanhã um novo passarinho voará até você. Resta saber como ele será recebido. Resta saber se esse será o último vóo ou se ele abrirá as asas e voará rumo à liberdade, aquecido pelos raios do sol do amor.