Eu peço à quelas afeitas aos encantos transitórios dos "amores" fugazes que leiam com calma, e se possível releiam... Sei que essas precisarão ter alguém a quem culpar nas suas vidas de fracassos, mas insisto para que conheçam o aviso...
Respiro fundo pra dizer o seguinte:
Não creio em conquista... E repito com todas as letras que não há nada que se possa fazer para conquistar um coração que não foi "fisgado" no momento em que o olho bateu no olho. Porque ele (o olho) é que quase sempre testemunha uma luz diferente a irradiar como um relàmpago na alma... Qualquer artifício que for usado fora desse momento mágico para conquistar é falso e decadente desde o exato momento em que é arquitetado. Aliás, já que estou arriscando a minha pele, vou mais além e digo que toda conquista é uma agressão à alma... Ela (a alma) sofrerá a vida toda porque não conseguiu fazer com que sua dona dissesse um não bem redondo diante da sua certeza de que não houve esse momento do qual falo...
A maquiagem, os penteados, a educação etc., não resistem ao tempo... Os ramalhetes de flores são mais frágeis ainda, e murcharão com mais presteza... As perguntas feitas em questionários de agências de namoro para descobrir se as almas são gêmeas, também não revelam absolutamente nada de aproveitável nesse sentido. Porque um casal que viva o amor que conheço há de se aprofundar no conhecimento sem fazer perguntas. Isso mesmo... Porque mil respostas na ànsia das paixões não valem um gesto só durante uma convivência... Assim como a maquiagem e o bronzeado da pele, uma pessoa pode se esconder detrás das perguntas (que faz e responde). O que foi visto e ouvido perde o sentido em pouco tempo de convívio. Mesmo porque uma maquiagem (do corpo e da alma) não durará nem uma pequenina parte importante de uma vida...
A voz e a fala também podem ser um engano, porque sei com toda certeza que não é o que se fala nem a maneira de dizer que faz com que um coração se incline ao outro de forma definitiva. Tudo que uma mulher ouviu e contou entusiasmada para as amigas pode ser o maior engano que há, e pouco tempo depois a sua evidente sentença de morte. Porque palavras e gestos ensaiados durante um tempo de namoro, podem se transformar em motivo de cobrança mais tarde. Uma amiga minha disse do "ex", que não entende, porque ele era tão gentil e educado... Eu não disse nada diante da dor dela, mas pensei que este foi justamente o problema. Antes ele se escondia enquanto faminto sentia o cheiro do cio, mas agora saciado, tirava a máscara... Há quem prefira a máscara ainda que ela seja um gelo que perdure por toda a vida. A culpa não é só dele como elas costumam pensar. O decote, as pernas à mostra, o olhar insinuante, e a mão boba na nuca antes do tempo partiram dela... A maquiagem instigando o desejo...
Um outro erro precedente seria confrontar um homem quando tira a máscara...
O melhor das palavras é as dito em segredo... E julgo muito melhores ainda as bobagens intraduzíveis e até (não achei outra palavra) vergonhosas ditas pelo casal embriagado pelo amor. Aqueles apelidos íntimos e carinhosos são preciosos. Conheço um casal que um chama o outro de "fofo" e "fofa", e o apelido perdura quase uma vida inteira. Começaram a se nomear assim quando ambos eram ainda magros e descobriram as primeiras gordurinhas quando um acariciava o outro. Motivo que parece fútil mas evidente de separação de muitos casais que tem hoje seus amores maquiados e que efetivamente não suportariam uns quilinhos a mais.
O amor porém ri das coisas que são motivos de separação dos outros. Aquele casal de "fofos" que eu citei faz a maior festa com o ronco do outro, e não há nenhum rancor quando um sai da cama e vai dormir no sofá... O dia seguinte é de piadas críticas e risos, e a família entra no clima e ri também, porque o amor é contagiante...
Um relacionamento começado em troca de flores e coisas desse tipo tende a precisar de presentes cada vez mais caro e custosos pra sobreviver no engano da máscara sufocante a que está destinado...
Mas um amor descoberto num olhar (no olho e não noutra parte do corpo) tem muito mais chances de sobreviver. O lampejo de amor percebido por uma alma tem a semelhança de uma canção da eternidade. Esse momento só não será eterno se não existir nada eterno... Porque o amor é tão eterno quanto Deus... E só o amor resiste a todas as tempestades da vida... Só ele acha bonitas as marcas no rosto do tempo... Só ele afaga a mão enrugada da vida... Só ele não se impacienta com o tremor da fala... E o enfeite do amor é ele mesmo. "O amor se enche consigo mesmo"... O amor é o mesmo até na falha da memória...
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Conheço na minha família muitos exemplos dos dois lados da história... Do lado positivo, meus avós são um exemplo... Meu avó conheceu minha avó quando ele tinha quinze e ela doze anos. Ficaram quatro anos sem ver um ao outro, e quando viram trocaram outros olhares e nenhuma palavra. Casaram-se sem ter outra troca a não ser cumprimentos diante das famílias. Esse namoro sem graça foi o início de sessenta anos de convivência pacífica e harmoniosa. Gabavam-se de que nunca tinham discutido durante esse tempo... Contavam afagando as mãos e ainda olhando nos olhos numa tentativa de envergonhar os filhos que viviam aos tapas e beijos.
A melhor imagem que tenho dos velhos é de todas as tardes assentados de mãos dadas na porta de casa. Calados, porque não precisavam perguntar nada do outro... Namorando...
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