Nada melhor do que uma boa historia acontecida ao tempo em que se jogava futebol. Na verdade não existe um ex-atleta, seja de várzea, seja profissional, que não tenha, pelo menos, um acontecimento marcante em sua vida esportiva, o que facilita , sobremaneira, o trabalho de qualquer cronista, seja ele, também, profissional ou amador.
Acontece, porém, que nem só de futebol vive este pais e também em outros esportes os acontecimentos se perpetuam, quer por usa hilaridade, quer por sua beleza como essência desse próprio esporte. E esse acontecimento eu ouvi do próprio protagonista.
Ainda garoto de calças curtas conheci seu Antonio Quintino da Cunha, o Antonio Barbeiro- aliás todos que foram garotos no bairro Independência conheceram seu Antonio Barbeiro - excelente profissional que passava suas horas de lazer, ou entre um corte de cabelo e outro, jogando damas com quantos se habilitassem a enfrentá-lo. Conhecedor profundo desse esporte, pouco difundido, mas excitante, era seu Antonio Barbeiro o protótipo do verdadeiro campeão, tal o respeito que infundia aos demais damistas da cidade. Diga-se de passagem, por necessário, que o jogo de damas é um dos poucos esportes no qual ninguém "engana", ninguém dá uma de "mané". Quem é bom de tabuleiro senta, joga e ganha. Quem não é, senta, joga e perde, via de regra...
Pois bem. De certa feita apareceu um sujeito na barbearia , que ficava ali na rua Moreira, onde hoje é a Academia Cachoeirense de Damistas. Bem arrumado, muito falante, aspecto sério, e, novidade: Abarrotado de livros e revistas sobre táticas e técnicas de aberturas e finais de partidas. O sujeito era realmente incrível... Arrumava as peças no tabuleiro e mostrava mil maneiras de como ganhar, de como empatar e de como perder. Mostrava golpes em que se terminava uma partida em três lances! Explicava teorias de mestres russos e franceses como se fosse simplesmente um deles, ante o olhar embevecido e amedrontado do próprio Antonio e do Osvaldo Carvalho - frequentador assíduo da barbearia, na época, e hoje grande colecionador de títulos na cidade.
Mas tanto fez e mostrou o damista forasteiro que ficou difícil decidir quem sentava primeiro para jogar com ele. Se o Antonio Barbeiro ou se o Osvaldo. E foi aquele jogo de empurra: - Senta você. - Não, você primeiro que é o dono , etc....
Evidente que por em risco a fama de bons jogadores contra um "gênio" daqueles era, antes de temeridade, uma verdadeira oportunidade de passar vergonha. Sim, porque todo damista que se preza é orgulhoso e não gosta de perder. Quanto mais de goleada... Sem contar que depois deveria suportar a gozação dos demais damistas da Academia, o que era, Ã toda evidência, inadmissível...
Ante a insistência, porém, do "Grande Mestre"- como se rotulava nas entrelinhas - e sob a promessa juramentada de jogarem apenas uma partida cada um, aconteceu o encontro.
Acontece, entretanto, que somente o seu Antonio jogou. Não que o Osvaldo tivesse desistido por medo, mas simplesmente porque após 10 minutos de jogo o resultado já estava 5XO para o damista cachoeirense...
Bem, o que aconteceu com o "mestre"ninguém ficou sabendo, mesmo porque saiu à s pressas da barbearia deixando para trás uma tremenda e hilariante bagagem de conhecimentos até hoje discutidos e registrados nos anais folclóricos da história damistica da cidade de Cachoeiro de Itapemirim.