Boa Viagem
Luís Gonçalves
De nosso falar, assim, assim da região, é o mais popular. Sim, é o que dizem: -"o mundo velho é sem porteira". Se é, eu não sei.
Só sei que ali do lado daquela serra tem terra pra não acabar mais. Se o caboclo não for bom de perna fica pelo meio do caminho logo na arrancada.
Por aqui sempre passa uns e outros fazendo treino de perna. Pois, sim. Disque agora virou moda. Tá vendo?, andarilho virou turista. No meu tempo isso tinha outro nome.
O povo inventa cada coisa! O mundo vai indo pela hora da morte e o povo anda por aí batendo perna caçando o quê?, eu não sei. Tamanha falta do que fazer. Sim, senhor...
Quer saber?, o que tem de povo extraviado por esse mundão de meu deus... Nem se faz conta. Taí! Quem manda sair de endéu, endéu, sem eira e nem beira?
Mas é disso que o povo gosta. O povo gosta de ser iludido. Semana passada eu vi, com estes olhos que a terra fria um dia há de comer; a propaganda do turismo.
Sabe aquele nanico ali da esquina? Diz ele que é turismólogo. Viu? Até o nome já dá dobra de língua. Por aí se vê. Agora imagina o resto.
Aquele ali não me engana. Vive dizendo que: -"o fazer turismo é a arte de reciclar o que já nasceu pronto". Chega entortar o talo do pescoço de lado para empinar a voz.
Você peneira tudo e depois aproveita o bagaço para enfeitar a festa do que passou pela peneira. Tudo balela. E o povo vai de arrasto. Igual sardinha no fubá.
Está todo mundo na ceva. Pensa, que não? Tem deles que paga, um rio de dinheiro só pra saber das coisas. O povo é curioso. Faz qualquer coisa só para futricar a vida alheia.
E ainda acha quem dá corda. Não dá para fazer experiência no turismo sem pensar numa realidade de mercado extremamente agressiva. É verdade!
Quem vai querer sair por aí batendo perna por coisa nada? O povo paga. Mas quer ter o direito de pisotear tudo que achar pela frente. Isso mesmo. Não quer nem saber.
Se facilitar o povo dá o pinote até no esquecimento. O trabalho deve ser rigorosamente monitorado por todos os flancos. Porque a margem de erro é extensa.
Pode até falar mal de minha pessoa. Mas pela minha costa. Sinceramente, eu não vou dar a cara para cuspe de seu ninguém. Para quem já anda treinado é um santo remédio.
Andar até que não é ruim. Mas tem que ter treino. E nunca é demais cultivar certa intimidade com hábitos e costumes diferente. Com certeza. Todo cuidado ainda é pouco.
Porque não é qualquer um que tolera certas coisas e faz cara de quem está feliz. Já vi gente virar onça por muito pouco. Quando o sujeito empina e joga o ombro, pode contar.
É! Aí o boi vai n´água. Sim, senhor! É isso que transforma o turismo em bode expiatório. Fica todo mundo com um pé atrás. Não é fácil acreditar nisso.
Conversa fiada nunca deu de comer a ninguém. Bater perna sempre foi coisa de gente desafortunada. Agora, disque até rico faz disso profissão. Aonde nós vamos parar?!
Para eles, turismo é um grande intercàmbio de idéias e tarefas a cumprir. Fonte geradora de riquezas e sustentabilidade do sistema. Se deixar, eles levam de enleio.
Falam coisa do arco da velha. Dizem que: -"o papel do gestor enquanto grupo de fomento não é o paternalismo e sim o comprometimento com a realidade de mercado".
Eu não sei o que é isso. Mas boa coisa não pode ser. Porque de embrulho de língua eu já ando farto. Essas coisas já não me metem medo. Também, não facilito.
Nesse tipo de velório prefiro guardar a soleira da porta. Qualquer coisa diferente vou logo pelo central da rua e aguardo uma definição. Não dou trela pra quem não conheço.
O que esse povo quer é ter o que conversar. Na verdade o que é muito interessante para o setor do turismo é a novidade. Vivem enfiando a colher aonde não são chamados.
Pensam que são grande coisa. Vivem arrotando grandeza pelo canto da boca. Quá! -"Tudo é muito novo e velho o bastante para ser pesquisado". Viu? Não sabem o que falam.
O turismo não sobrevive apenas de uma idéia, ou segmento. Não, mesmo. Mas do conjunto de vários fatores que obrigatoriamente nem sempre são unànimes. Sim, senhor.
Alguns são até passivos de riscos. Porém, formam um ponto de equilíbrio com outros segmentos ativando o arco de potencialidade turística. Basta consertar o pedal do beiço.
O agente de turismo tem que ser forrado de coragem de gogó a mocotó. Definir metas para uma conduta turística de brio. Senão, o povo não bota fé.
Tem que estar engajado no movimento e falar a mesma língua do setor. Para ver a tão sonhada reengenharia turística na região. Vamos falar o português claro...
É, ou não é?