Escorria o passar das horas, e no aposento, discreto os personagens se comprimiam. O suporte de roupas, que era um pato, o pedaço de madeira que era um prédio, os palitos de fósforo eram a multidão, já não incomodava, o barulho da chuva, no repenique constante nas telhas de zinco, da área, portadoras da umidade e do frio típico do inverno que já se apresentava. Tudo isso apenas circundava um universo que fervilhava paralelo, aos momentos em questão. O pato, dizia, sabia voar, mas a multidão duvidava, e o prédio, esse coitado, já se sentia cansado com tanto peso, e também não acreditava, que com tanta banha esse pato pudesse voar. E o povo se já não estivesse com a cabeça queimada, essa seria à hora. As apostas rolavam, os incrédulos duvidavam os otimistas, suspeitavam da ousadia, desse empedernindo sujeito, que não se mancava, da sua condição. Bota teimoso nisso, esse sujeito, é uma verdade, tinha subido, e tudo que sobe tem que descer, por bem ou por mal. Na sua tagarelice costumeira o pato só aumentava o burburinho, e ainda existiam aqueles que o chamavam de coitadinho, esse arteiro, que paralisava o mundo inteiro, como se nada mais fosse necessário fazer. Quando a decisão estava próxima, e nos seus movimentos o pato então ensaiava, o mergulho e quem sabe, o que viria depois, ouviu-se só um chamado; Carlinhos, o almoço está pronto! E ponto. Tudo voltou a ser o que sempre foi. Um suporte de roupas, um pedaço de madeira, alguns fósforos queimados. E a estória? Essa prossegue no próximo intervalo. O que foi? Nunca foi criança? Brinquedos não são necessários, quando se tem uma fértil imaginação. E qual criança não tem?