Tudo isso é só uma questão de postura, ou aventura, na visão de quem já viu a terra sumir, por de traz de vastas ondas, e já sentiu o cheiro salgado da maresia, que tempera a alma no infinito azul. E todo aquele que já cruzou estes caminhos, inevitavelmente deixou atrás de si um rastro de saudade, tão infinito como as estradas percorridas, na vasta superfície, que muda de textura conforme sua única conveniência. O silêncio assustador nas noites de calmaria, onde até a lua fez-se ausente, ligeiramente quebrado, no murmúrio das águas que acariciam o casco teimoso, da circunspeta nau que vai deslocando-se, no rastro das estrelas. Uma tênue brisa, que chega como fantasia, e veste pensamentos, nas cercanias de um tijupá. Alimentando um coração banhado em imaginação, insistente em existir, nas divagações puramente humanas de uma existência nómade, sem porto sem terra, e a alma, mesmo sem ser, sente-se uma Estela, perdida, em vastos campos de puro esquecimento. Aonde um dia foi sepultado a suavidade de um amor. E no meio do tempo, que neste caso passa sempre através do vento, chegam os pensamentos trazendo inevitavelmente o cheiro da terra molhada, tão longe, e tão amada, o berço e os braços de um leito firme na mais completa exatidão. O lugar aonde se faz a gente, e gente é sempre muito fácil de se fazer, mas transformar gente em ser humano, isso decididamente se desaprende de querer. Porque de instinto, terra e mares estão povoados. Mas raciocínio, discernimento entre bom e mau, bem e mal, só a nós Deus deu. Então talvez estejamos navegando sem rumo, nesse oceano de incertezas, e com certeza desse jeito, não chegaremos a lugar nenhum.