Encontro-me no alto de uma escada de onde posso ver tudo o que se passa. Visão panoràmica: ricos carros, pessoas bem vestidas, avenidas e lojas luxuosas. Deparo-me também com aquele que esmola, que vira o lixo atrás de comida, com o cameló que rapidamente ajunta seu material porque alguém gritou: "olha o rapa!"
É o contraste paulistano ... ou será brasileiro? Ou ainda mundial?
Desço e torno-me uma qualquer sem o destaque visual. Misturo-me ao povo. Sinto-o, cheiro-o, percebo-o .Continuam as discrepàncias.
Um som sobressai aos demais ruídos: é a sirene da polícia. Alguns metros depois as otoridades saltam do carro depois de um freada ruidosa. Cercam dois adolescentes: braços para o alto, mãos na cabeça. São apalpados, examinados, ameaçados, invadidos. Nada é encontrado além do amassado RG e uns trocados: estavam "limpos" mas, como a roupa era surrada ...
Chego perto de uma aglomeração de pessoas. Espio entre ombros: é o "canal CPI" mostrado por uma televisão: homens de terno, poltronas confortáveis, ar condicionado. Nova e angustiante diferença!!!!
Diferença? Que diferença?
Diferença física? Não ... todos temos duas pernas, dois braços, um corpo e uma cabeça.
Diferença material? Sim ... enquanto uns consomem, outros são consumidos...
Mas que raio de diferença é esta que tanto me incomoda? Mato a charada: enquanto alguns estão desnudos, sem adereços, carregando de baixo do braço o mérito de um dia de trabalho, outros, fantasiados de honra, enterraram a verdadeira sob a cova de muitos.