Estava fazendo a caminhada matinal pela Avenida Beira Mar, conversando animadamente com a minha esposa, traçando planos para esta nova e quarta etapa de nossas vidas e, entre tantos rostos amigos para cumprimentar com um bom dia, deparo-me com Narcélio Lima Verde. É o bastante para as recordações da infància me acodirem. Porque o pai de Narcélio,o saudoso radialista de "Coisas que o tempo levou", povoou a minha infància com aquelas estórias, músicas e fatos de uma Fortaleza que, já naquela época, tinha um passado para relembrar.
E eu fico imaginando a Avenida do Imperador, ainda pavimentada com pedras toscas, a igrejinha de São Benedito - que era o Santuário da Adoração Perpétua, onde os devotos iam fazer as suas preces ao Santíssimo Sacramento; as cadeiras na calçada; as conversas intermináveis à luz pálida do luar, pois havia um convênio entre a CONEFOR e a lua, porque coincidia ter um corte de energia nas noites de luar; as quermesses da Semana Eucarística...Vai longe o tempo...O menino de ontem continua sonhando, olhando no céu as arraias coloridas, as aves audazes, os pirilampos das noites de junho, as quadrilhas, os vultos saudosos que já não estão aqui conosco, no mundo dos vivos, mas que, na saudade destas horas de relembranças, voltam a adquirir vida, riem e cantam e contam piadas e, depois, somem na voragem do tempo sem volta, do paraíso que ficou soterrado nos escombros do passado, entremostrando apenas as suas belezas recheadas de horas doces, fagueiras, inesquecíveis.