Estranha época essa em que estamos vivendo,
onde existe de quando em quando
um vestígio de piedade,
mas que parece ter sucumbido definitivamente a solidariedade.
Senão como entender, que haja ainda que em pequena escala
iniciativas de auxílio para quem desceu até a rua da amargura,
mas que não faz nada para impedir um irmão de chegar até lá?
Que sentimento é este que para vingar tem que ser o semelhante,
numa posição de inferioridade?
Que dó é essa que precisa ganhar as colunas dos jornais?
Que caridade mais esquisita que só existe depois do tombo,
da queda, da humilhação?
Estranha época essa em que estamos vivendo,
onde a coisa mais difícil é ter um amigo,
manter uma amizade sincera.
Que inibe o ser humano na manifestação de seus sentimentos,
que faz o homem se sentir ridículo ao chorar
que provoca o medo, que limita a vida
Que estranha época onde a honestidade antes de ser uma obrigação,
passou a ser uma qualidade rara.
Que estranha época essa onde as pessoas têm medo de falar,
de expor suas idéias, de conversar sobre outras coisas
que não seja novela, futebol e inflação.
Época estranha essa,
onde os homens estão ficando cada vez mais estranhos.