Vem! Senta aqui, minha poesia. Venha escutar-me, já que é de longa jornada a minha verdadeira companhia. Vamos discutir a nossa relação, o nosso caso, definido não sei aonde, mas por certo, fruto de um decreto, de alguém muito distante. E quando ao meu lado a colocaram, não fizeram por acaso, pois hoje eu sei, que de ti eu fiz, o último recurso de um náufrago. Por isso tudo relaxa, pegue um copo, beba comigo um pouco desse vinho, e também sinta o desalinho que tu me causas, quando me surpreende no momento sem causa. Claro tu sabes, és minha cachaça, e não faça essa cara! Mesmo sendo pouco lisonjeiro, é por isso que te procuro, quando a solidão se apresenta, forte; no meio de uma multidão que não complementa, só vaga como tormenta, entre a futilidade e a vaidade, de consumir as coisas obvias da beira do caminho. Veja! Como me olham. Como se de louco, eu tivesse tudo e não só um pouco, provavelmente pensam que eu sou o desgosto, de alguém que já partiu. Eles não sabem nada! Não conseguem ver nem o seu corpo, quando em letras, te materializo. E Ã s vezes quando é preciso, te visto na forma de uma canção. Bem; deixa pra lá, o tempo deles é curto, o nosso não sei ao certo, só tenho a sensação que tem algo de eterno, porque como te disse, tenho a sensação de ter visto você em outro lugar. Outros bares, outras janelas, onde a paisagem sempre foi tão bela, e eu confesso, me desculpe, muito te usei, para conquistar o amor, essa coisa incandescente! Que muitas vezes me queimou. Ora vamos! Não sorria assim, pensa que não sei? Da tua cumplicidade com o amor, posso até dizer que nascestes na mesma dor, no momento do arrebatamento, quando a cria viu a si mesmo, no reflexo do divino espelho e soube intuitivamente, que uma se chamaria poesia, e a outra seria o amor. Não me pergunte, qual das duas é só reflexo. Por que assim me deixas circunflexo, pois aí está o lugar aonde mora a magia, o encanto que um dia, vai trazer a vida, a toda aquela gente que passou. A conversa está muito boa, mas agora, vou deixar-te em paz, vou andar a toa, pode deixar comigo, eu pago a conta, porque esse vinho é de um lugar de faz de conta, muito além da imaginação.