Em setembro de 2002, numa crónica que eu chamei de esperança, eu vaticinava a volta da primavera, o retorno das chuvas, o regresso do jardineiro com as suas mãos de mago, o recomeço da vida com os seus encantos, embora, naquele momento, eu reconhecesse que era tarde, muito tarde. Mas, havia a làmpada votiva da esperança para impedir que as trevas tomasse conta do itinerário, toldassem o caminho, emurchesse de vez os canteiros abandonados e o jardim transformado em caos.
Eu afirmei que ninguém perdia por esperar e quem tivesse olhos para ver teria oportunidade de comprovar o que eu dizia.
Pois bem, já decorreram três anos e muita águia passou por debaixo da ponte. As chuves retornaram, os campos readquiriram o verde, as flores dersabrocharam outra vez e as mãos do jardineiro zeloso fizeram magia e espalharam beleza e cor no cenário que era só desolação.
E aquele vento ruim? E os agouros? E os anjos do maldade?
Tudo passa velozmente. E o que gente consegue guardar, na realidade, é um sorriso, uma flor, uma aperto de mão, um amor verdadeiro...o resto...deixa pra lá.