O sono puxa os meus olhos, talvez o Gobilónio, o menino de um olhos enorme sobre a testa, cuja estória inventei na infància do meu primogênito, que me cobrava estórias diárias e a minha imaginação já andava meio a pique, esteja brincando com as minhas pálpebras, testando a minha resistência depois de um dia afanoso de trabalho.
Ouço o ruído da chuva lá fora. Um trovãozinho besta, isolado, querendo mostrar serviço. Um cão ladrando num quintal distante. O barulho cacarterístico dos pneus dos carros retardatários, passando pérdidos no meio da noite.
Mas, há uma vontade insopitável de escrever, escrever nem sei mesmo o quê, talvez somente por vício, para não deixar passar em branco o dia.
Toda esta conversa vem de ontem à noite, ficou impregnada na minha mente, querendo emancipação tão logo o dia afugente os últimos fiapos da noite, dando permissão ao sol, ainda meio acanhado de tanto dormir, para vir inaugurar mais um dia de primavera.
Registro a conversa com o Ministro doente, físico abatido, voz sumida, olhos tornados grandes num rosto encovado, falando de luta pela recuperação, om espírito forte brigando com o corpo na luta pela sobrevivência.
O encontro de presidentes, esvaziado.
A tentativa desesperada do governo de mostrar serviço, fugir da crise, enganar, talvez a si próprio, pois ninguém mais se ilude com o discurso esvaziado.
E o tempo flui inexoravelmente...a vida escorre pelos vãos da noite...há uma certa poesia nostálgica rondando as coisas escondidas pelas sombras da noite alta...há muita beleza dormitando nas alcovas e desejos ardentes multiplicando a espécie humana...