Folhas miúdas, que sob o pó do inverno seco escondem a cor viva da vida verde. Galhos moles se esparramam num falso descaso de gato manhoso.
No velho vaso, seu pequeno e ressequido mundo, quase se perde no cenário inerte de fundo de quintal. Só por um detalhe hoje se faz notar. Pelo lilás delicado da flor que hesita entre mostrar-se um instante e ocultar-se para sempre.
Não é a mais nobre das plantas nem a mais bela das flores.
É apenas o boldo (prefiro chamá-lo assim, embora deva ser falso-boldo ou parente dele), num canto qualquer desse quintal quase inútil.
Sobrevive teimoso, na esperança de água, e sob o sol atrevido floresce anónimo, sem mimo, sem nada.
Confesso a culpa pela negligência, pois só Ã s pressas eu passava por lá, na emergência do enjóo que implora por um chá.
Mas agora o vejo, faceiro e brilhante, clicado no zoom para perpetuar a lembrança. Sua flor ensaia um sorriso espontàneo e puro.
Esse é meu boldo, singelo e valente, com sua flor frágil e contente. Em seu cantinho solitário, espera humilde e persistente. Pequeno, mas forte. Esquecido, mas prestativo e eficaz.
Obrigado, amigo. E me desculpe por todo esse tempo em que lhe faltei com a devida atenção...
Ah, continue mandando suas flores. Prometo que serão bem-vindas. Aceita uma água?