Céu tingido por névoa seca e queimadas no mato sem chuva. Sobre o chão plano, o bicho empinado rosna em posição de ataque, encarando o horizonte como se avistasse a fêmea no cio.
Em cima dele, minhas mãos se esforçam para segurar seu ímpeto, até a hora de soltá-lo na estrada, onde tem tudo que quer. Espaço e liberdade para se mover, dominar, conquistar e saciar a compulsão de andar sem cansar por destinos sem fim.
No desafio das longitudes, a magia das imensidões inabitadas consola o abandono no asfalto. Indiferente a obstáculos, marcha destemido sobre enigmas de campos e rincões, enquanto o motor entre minhas pernas ronca forte e toca firme, jurando cumprir a nobre missão de rodar por rodar.
O lombo da fera é o trono em ação. Ali reina o prazer de lançar a máquina cheia de apetite, de explorar espaços abertos e de pilotar sem abusar... Exercito o domínio da fúria e mergulho na arte de reger a sinfonia de metais quentes, para conhecer o infinito e girar a rosa-dos-ventos que sopra no corpo e refresca a mente.
Longo como a estrada, o dia segue assim, no vigor da tocada que rompe serras, engole planaltos, transpõe vales e risca outro mapa no meu diário de bordo.
Viajar em duas rodas é isso e muito mais. Com todas as emoções e desconfortos desse prazer sem lógica...