Hoje encontro-me assim meio sem inspiração, lembrando retalhos de memória, meio desconectados, como um quebra-cabeça incompleto, que você busca desesperadamente aquela peça importante, mas nenhuma das que suas mãos apanham na sacola guarda pertinência com a outra. Aí você não consegue formar nada que signifique alguma coisa, está sempre faltando um pedaço.
Então, você fecha os olhos para tentar enxergar melhor, procura o silêncio para captar mais sons, para toda e qualquer atividade para ver se trabalha mais a mente.
E vem aquela cena praiana: a jangada inclinada, a vela aberta à viração marinha, as gaivotas barulhentas, o céu escampo, a curva da enseada, as ondas quebrando na areia, as conchas espalhadas, a barraca de peixe, os meninos empinando arraias, a sorveteria prometando 60 sabores, mas nunca você encontra aquele que você procura.
E eu aqui na noite do planalto, longe daquele cenário, fico imaginando como está a praia no escuro da noite, as pessoas apressadas caminhando ao longo da avenida, buscando um melhor condicionamento físico; os restaurantes tradicionais anunciando as delícias cearenses; o navio apitando no cais, nota sonora de saudade, uma saudade doída, antiga, misteriosa: afinal, saudade de quê?