Longe do Brasil, falando, ouvindo e lendo idioma estrangeiro, ouço ao longe, no som de um carro estacionado, boa música brasileira: Tom Jobim interpretado por Stan Getz.O sax melodioso traz para o ar frio deste inverno brando, o ritmo característico da bossa nova, impregnado daquela alegria mesclada de tristeza, despertando na gente uma saudade "danada" da nossa terra. Aí, o carro se afasta e o Brasil sai do ambiente. Voltam o inglês, o espanhol, as coisas daqui, de onde escrevo esta crónica do exterior, escrita depois da missa celebrada em português carregado de sotaque italiano do padre Tizziano.
Revejo os amigos que não via há um ano, brasileiros de muitos lugares,mourejando no sul da Florida, desempenhando tantas funções diferentes das ocupações que tinham por lá. Enquanto lá eram bibliotecárias, engenheiros, analistas de sistemas, advogados, economistas, aqui fazem faxina, entregam pizza, servem de motoristas para gente rica, limpam piscinas, trabalham de garçon. E vão ficando, ganhando em dólares, comemorando a passagem do ano com dupla personalidade: ouvindo axé e, ao mesmo tempo, rock da pesada; salsa e samba de fundo de quintal.
E eu, no meio deles, pensando no ano que se foi velozmente, levando tantos amigos de roldão, inclusive, meu sogro.
Isto faz parte da vida, pois a morte somente quer uma desculpa para nos levar: estarmos vivos.