Por onde ando, agora, sem uma razão que eu consiga intuir, parece que estou de costas, andando na direção do pretérito, sentindo em tudo uma sensação de já haver visto antes, uma saudade em cada recanto, mesmo que jamais percorrido anteriormente.
E ronda os meus olhos um pranto amargo e, ao um só tempo doce, sufocando minha respiração, deixando-me ofegante.
E assim, a vida vai passando veloz e imperceptivelmente, porque a gente nem sente que vai envelhecendo, a não ser quando olha as fotos antigas, pois o espelho nos mostra apenas uma imagem à qual estamos acostumados, impossibilitando-nos de detectar os detalhes do seu trabalho erosivo constante, impondo-nos marcas no rosto, nos cabelos, na voz, nos gestos, na desenvoltura.
Enquanto escrevo, no bojo de um avião, dois dos meus netos, o filho caçula e a namorada estão vindo ao nosso encontro, embora, no primeiro vóo estejam na verdade se distanciando, porquanto saídos de Fortaleza, descem em São Paulo para, ali sim, tomarem o vóo que os trará para o nosso convívio.
Minha mulher e eu, no cansaço natural das tarefas de casa, aqui e ali comentamos sobre episódios esparsos da infància dos nossos filhos, lembranças que ficaram impregnadas nesta casa, ao longo dos dez anos que aqui passamos nossas férias. E a saudade vai permeando tudo, deixando um entalo nas nossas gargantas e uma insopit[avel vontade de chorar baixinho para desafogar o peito de tantas emoções desencontradas.