EU OLHEI E NÃO VI VOCÊ.
(Por Germano Correia da Silva)
Eu olhei em todos os sentidos e direções que se posicionavam à minha volta e não vi você. Você certamente se ocultava no esconderijo que cada um de nós possui dentro de si mesmo e, na maioria das vezes, não tem conhecimento disso.
Olhei na direção da linha do horizonte e não vi você. Naquele momento eu imaginei que devido à distància que nos separava, meus olhos não fossem capazes de visualizar com detalhes a sua imagem ou o seu semblante. E ali, meio confuso, meio ansioso, eu devo ter-lhe confundido com uma outra criatura humana que por ali passava.
Olhei na direção do sol e não vi você. Com certeza os raios solares tão fortes que o eram naquele momento, me ofuscaram de tal modo que eu não consegui lhe visualizar com nitidez, ou talvez você estivesse realmente muito perto de mim, mas naquelas circunstàncias o calor solar impediu que eu sentisse o calor que irradiava do seu corpo, ainda que fosse apenas de relance.
Naquela minha busca incessante à sua procura, continuei olhando na direção da lua mas a noite era extremamente fria e foi justamente naquele momento que eu consegui sentir você. Mas você não estava na superfície lunar como seria de se esperar e nem ao meu lado como eu esperava e eu só percebi que era você em virtude da intensidade da brisa que soprava do mar na minha direção, fiel condutora do perfume inebriante do seu corpo.
Naquela noite fria, embalada por aquela aragem amena, e inebriado pelo seu perfume, eu pude sentir que você poderia estar bem perto dali, muito próximo de mim, contudo eu não conseguia lhe ver de forma clara. O que ocorreu na verdade foi que naquele período sazonal especial, as flores do anoitecer também irradiavam seus perfumes por todos os lados, trazidos que o eram pelo vento noturno que soprava na direção do mar, misturando-se com o perfume que irradiava do seu corpo e foi exatamente nesse momento que eu pressenti que você estava ali.
Naquele instante eu tive a exata noção de que você era uma daquelas dálias espalhadas no universo campestre do nosso ser, que por mais que tentássemos descobrir onde ela se encontrava, nos tornava impossível tal missão devido à sua similitude com as demais dálias espalhadas pelo campo. Mas eu não liguei para a dificuldade que me norteava, uma vez que todas aquelas dálias estavam, por fim, sorrindo para nós, como se estivessem a nos cumprimentar pelos momentos de felicidade que nos aguardavam naquela hora, naquele lugar.
Repentinamente, eu ouvi um estampido semelhante a um estrondo provocado por um trovão, e todo aquele barulho tinha a grata missão de anunciar a chegada do verão e com ele eu acabava de receber você de volta para os meus braços.
Naquele momento, você estava ali comigo e a felicidade conosco. Estávamos, finalmente, pedindo a Deus para que continuássemos nos permitindo procurar um ao outro. E você sabe a razão de tudo isso?
É claro que você sabe. É muito fácil entendermos isso sem a necessidade de esboçarmos um esforço fenomenal, pois está mais que provado que enquanto houver vida e fé, sempre haverá esperança e amor.