Mais uma madrugada fria na pequena sala de espera da maternidade. Era 16 de maio de 1996 e a Enfermeira-chefe de plantão viera informar-me que não era mais permitida a presença de acompanhantes na maternidade, ao que eu respondera informando-lhe que "estava na sala de espera".
Segunda vez a enfermeira importuna-me. Disse que eu teria que sair, do contrário chamaria a segurança.
Respondi-lhe calmamente que aproveitasse para chamar, também, a Polícia, o Exército, a Marinha e a Aeronáutica.
Ela deu-me as costas, entre resmungos.
A calma e o silêncio enervava-me. Fiquei inquieto. Terceira vez a enfermeira aborda-me, informando que "permitia" que eu esperasse, contudo restrito à "sala de espera", um cubículo gelado e sem conforto diante da rampa da maternidade.
De repente o barulho de rodas de uma maca, pesada, quebra o silêncio da madrugada. Salto para a porta da sala, acompanhando o movimento análogo do meu coração.
No topo da rampa surge a maca. Dois pés, brancos, sobressaem sob o lençol esbranquiçado.
Sinto o solo fugir sob os meus pés.
Plantado aos pés da rampa aguardo a maca aproximar-se, olhos fixos naqueles pés e um sentimento tenebroso a embotar-me os sentidos.
A maca passa. Não era ela. Volto os olhos, aflito, para a sala das enfermeiras...
- É o esposo da Ângela? A pergunta saracoteia em meus ouvidos, enquanto assinto com um movimento de cabeça.
- Seu filho nasceu. É um homem, e tudo vai bem.
Meu terceiro filho.