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cronicas-->O MENINO E OS DOCES -- 17/10/2006 - 09:13 (Rudolph de Almeida) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O MENINO E OS DOCES


Todo santo dia o pobre menino passava na frente daquela confeitaria. Pobre menino, no caso, não era mera força de expressão, ele era pobre mesmo e vivia na rua. Não tinha teto, não tinha alimento, não tinha amor. E era assim esfaimado que ele se achava diante daquela vitrine, repleta de doces, guloseimas, gostosuras e mais gostosuras. Ele parava diante do vidro, sujinho e triste, os olhos brilhando, o objeto de seu desejo tão perto, mas tão distante. Assim se passavam os dias, tortura interminável. Ele bem que tentava seguir por outra rua para não sofrer com aquilo, mas qual, não resistia, tinha que ver, tinha que ver.
Quando ele ali parava, lá de dentro lhe observavam os olhos da dona da confeitaria. Ela sabia o que ia na cabeça do menino, as mulheres afinal sempre sabem, principalmente quando fazem que não. Coração de pedra pelas mágoas ganhas e pelas chances perdidas, dos amores que passaram e dos que nem vieram, ela nem se abalava, pois que sofra o pivete. Bem que podia ela resolver aquilo, mas perderia uns doces e não ganharia nada, achava. Se os olhos dele encontravam os dela, ah, era a doçura fitando a amargura, em súplica, para a vitória recorrente do sentimento cinzento.
Só quem já passou por coisa semelhante vai poder avaliar o quanto sofria o garoto. Só quem já teve a desagradável sensação de não poder alcançar, por um triz ou um átimo, aquilo que muito queria, ou que conviveu com a impotência de suportar a proximidade de um inatingível anseio, vai poder compreender. Este vai entender porque o garoto não conseguia se afastar do sofrimento, pois o sofrimento por um desejo é dor agrilhoada à alma, dela não se afasta, a não ser que, a custa de muito esforço, se rompam as correntes.
Mas é claro que aquilo não podia continuar para sempre. Algum dia ele ia encontrar outros doces, ou invadiria aquela loja, ou então desistira, enfim o tempo tudo resolve, para o bem ou para o mal.
Não é porque morasse na rua que ele achava que poderia obter aqueles doces à força. É claro que ele já havia pensado nisso, já pensara em entrar correndo na loja e passar a mão nos doces. Quem sabe atirar uma pedra no vidro, afinal ele era bom de corrida. Apostaria que era capaz de escapar. Porém, não era isso que ele queria afinal, se era para ter os doces, que fosse do jeito certo. Também já pensara em pedir para a dona da confeitaria, mas o jeito com o qual ela o olhava, não, achava que não, não ia adiantar.
E assim se punham os sóis e subiam as luas. Certa manhã, ele encontrou uma nota de cinco reais, quantos doces daria? Feliz, pensou, é hoje. Saiu em disparada, voando por entre as pessoas, os carros. Ofegante, se encontrou então em frente à confeitaria e, espantado, viu que estava fechada. Espiando por uma fresta, observou que quase não havia mais nada lá dentro, só algumas caixas espalhadas pelo chão. Percebeu, então, que a confeitaria havia fechado, nunca mais veria aqueles desejados doces, nunca mais. Jamais saberia quais eram seus sabores. Nunca sentiria em seus lábios a sua doçura. Do sonho desejado e perdido só restaria, doendo, a lembrança, para sempre.
Sentou no cordão da calçada e chorou. Praguejou contra o destino, amaldiçoou a fortuna. O que poderia ele ter feito? Roubado os doces? Furtado dinheiro de alguém para comprá-los? Implorado, dias sem fim, àquela mulher, para tê-los de graça? Oh!, ele só fizera o que achara certo. Não sabia ainda que a vida não é justa, pois quem faz o que é certo nem sempre recebe o que merece e muitos que não merecem recebem mais do que deveriam. A vida é mesmo como uma ampulheta e as oportunidades são os grãos de areia caindo no vértice que separa as ampolas. Caiu, passou, se foi. Ele ainda aprenderá um dia, o mesmo andar da ampulheta é que vai lhe ensinar, que as opções erradas podem ser sim as escolhas certas. É pagar para ver. Ou sentar e chorar.
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