Um país se faz com homens e livros. Esta é uma frase célebre cuja ressonància permanece ainda tímida e frustrante. Tratando-se de Brasil, este é um fato incontestável se levarmos em conta o montante de vendas de um best seller e a nossa dimensão territorial. Lê-se muito pouco por aqui e isto é lamentável. Não há dúvida que houve uma melhora nos últimos vinte e cinco anos, mas muito pouco expressiva. Antes disso, era coisa rara um escritor viver exclusivamente da literatura. É urgente uma mudança de mentalidade por parte das editoras no sentido de facilitar a penetração no mercado dos grandes talentos, cujas obras engavetadas dormem no esquecimento. Quem perde com isso é o grande público. A carestia é o grande empecilho a uma maior circulação.
No entanto, o que mais revolta é ver em cada esquina a enxurrada de cds e dvds pirateados, roubando do artista a sua originalidade e os seus direitos. Não sabemos o que fazem as autoridades que não conseguem, ou não querem, dar um fim a tal patifaria. Vale repetir a questão do difícil acesso das classes menores aos produtos de qualidade pelas razões já citadas. O notório é que não vemos esta pirataria ocorrer no terreno dos livros e afins, senão em escala bastante reduzida, pois a diferença monetária entre o original e o falso não é compensatória. Conclui-se então a predominància da ambição e da perfídia em relação à arte e o bom gosto. Isto vexa, humilha o país, nocauteia a cultura e o resultado é desanimador.
Um governo que verdadeiramente preza, antes de tudo, a educação do povo jamais fecharia os olhos a esta realidade ululante. Possuímos em cada esquina um bar ou lanchonete apinhados de mesas, onde se vêem garrafas de cervejas e copos de chopp. E as pessoas, em confabulações que na maioria das vezes a nada levam, desperdiçam um precioso tempo em detrimento da evolução cultural delas. Em contrapartida, quem passeia pelas alamedas floridas de Paris ou de Roma ou mesmo de Buenos Aires, para não irmos muito longe, pode sentar-se, a cada cem metros, na frente de um estabelecimento, também repleto de cadeiras e mesas. Só que, lá dentro, as estantes expõem livros em vez de garrafas. Então, opta-se por permanecer horas no conforto de uma leitura salutar e até tomar um cafezinho se der vontade.
Não sou tão radical a ponto de ir contra a saborear uma cervejinha de vez em quando. Enfatizo, isto sim, a necessidade de tornar acessível a todas as camadas o conhecimento. E este se encontra nos bons livros. Os grandes autores e suas idéias deveriam estar mais disponíveis. Eles têm muito a nos oferecer. O acesso à cultura não pode ser, de forma alguma, privilégio de uma minoria. É ela que impulsiona o desenvolvimento de uma nação. Penso que todo esforço de quem governa deveria ter por primazia o incentivo à cultura. A meta número um seria então alfabetizar, não o iletrado; este já é um outro problema de mais fácil solução. Mas, sim, fomentar o prazer da leitura naquele que já o faz mas não está habituado. Mostrar à criança que um livro aberto é um amigo a sorrir. Que existe um mundo de largos horizontes para aquele que faz da leitura um hábito constante, o melhor passatempo.
Sou assíduo frequentador de livrarias e feiras e costumo adquirir obras de grande valor a preços irrisórios. Conclui-se daí que a questão não é, necessariamente, de ordem financeira, mas de cultura de um povo. Não somos tão afeitos aos livros como o europeu, por exemplo. A questão fica evidente quando comparamos a distància em termos de evolução entre esse dois continentes. Veia tropical, sangue latino seriam desculpas para o nosso desinteresse, mas não deveriam representar barreiras ao progresso e ao auto desenvolvimento. O que precisa mudar é a mentalidade. Sem educação não existe progresso. O país certamente será outro quando um best seller for sinónimo de milhões de exemplares vendidos e os livros de platina tornarem-se tão corriqueiros como acontece hoje no campo da música. Então poderemos afirmar com convicção que somos uma nação inteligente.