Rose queria muito conhecer o Rio de Janeiro. Ela e seu marido, Douglas juntaram um dinheirinho e convidaram Círio e Lúcio, pais deles, para realizar o sonho. O que ela via nas revistas e televisões sobre o Rio eram só maravilhas, merecendo a alcunha de Cidade Maravilhosa. Nunca imaginaria que enxergaria outras coisas que não a beleza que retinha em suas fantasias. A partir do momento em que pisou no Rio não acreditava em quase nada do que presenciava. Na ex-cidade da diversão e arte ficaram só dois dias, pois a decepção foi muito grande.
O hotel em que se acomodaram cobrava os mesmos preços do de um bom em seu estado e as diferenças eram por demais visíveis. A começar pelo que ofereciam, aliás, não ofereciam nos quartos. Toalha de rosto e frigobar eram objetos de luxo, sendo que a toalha deve ter ido passear e não mais voltou e o frigobar não existia e se quisessem tê-lo teriam que desembolsar alguns reais a mais, mesmo que não fizessem uso do mesmo. Os cobertores que ofereciam tinham uma cara de anteontem. Ainda bem que não houve necessidade de utilizá-los, pois estava quente. As recepcionistas tinham as caras amarradas e jamais escapou um sorriso de suas faces para amenizar a situação.
Ao passearem perceberam que onde havia sinaleiro, os motoristas davam uma diminuída na velocidade, uma olhada para os lados e atravessavam o cruzamento com o sinal vermelho. Não era só de noite não. Em plena luz do dia viviam apavorados com assaltos no sinal. Douglas, o motorista da troupe aprendeu rapidinho e não deixou um semáforo segurar por mais de alguns segundos.
Rose que esperava ver somente cores brilhantes nos arranha-céus se decepcionou ao reparar que os prédios e as casas eram feios e sem pinturas. Nas ruas, o cheiro era fétido e só no segundo pararam de reclamar. A bela e seus homens não tão belos passaram por situações que jamais pudessem imaginar que um dia presenciariam.
Foram pedir informações e as pessoas se afastavam ou respondiam com os olhares ressabiados. Um taxista, porém, os atendeu muito bem que mereceu uma salva de palmas, dentro do carro para não assustar ninguém. O inusitado, porém ainda estava para acontecer. Douglas foi pedir explicação da localização em que se encontravam, para um guarda de trànsito. Douglas encostou o carro e a primeira reação do policial foi exigir-lhe os documentos do veículo.
Na próxima parada passaram a incumbência de solicitar esclarecimentos para o Círio. Esse chegou com jeito humilde e perguntou onde era tal lugar? O policial, dentro de um veículo provavelmente à prova de balas, acompanhado de mais três, fortemente armados, respondeu rispidamente:
- É por ali, Ã esquerda.
Círio saiu, sem graça, apavorado e comentou que não sabia quem naquele momento estava com mais medo, ele ou o policial, um crioulo de quase dois metros de altura.
Não pensem que eles só viram coisas feias. Rose e Círio foram no Pão de Açúcar. A jovem não sabia até aquele momento que tinha medo de altura. Tremia que nem vara verde. E para aumentar ainda mais o pavor da infeliz, Círio dava-lhe sustos constantemente. Rose ficou um pouco mais aliviada quando no bondinho da Urca para o Pão de Açúcar, uma senhora sentou-se no chão e só se levantou no final do percurso. Círio muito alegre conseguia diminuir o pànico de Rose ao mexer com uma turma de turistas alemães que adentrou no sofisticado transporte. Em português claro e com os olhos voltados diretamente para um casal dizia:
- O senhor até que não é feio, mas a sua senhora é feia paca. Deus me livre.
Lá em cima, em solo firme, Rose mais à vontade tirou fotos e ambos riram muito e puderam ver um pouco da beleza que procuravam.
Estiveram também na Praia de Ipanema e não viram nenhuma garota que pudesse ter inspirado o Vinicius de Moraes. Daremos a desculpa de que o tempo estava fechado e mesmo assim dissimulou a desilusão colocando os pés na areia quase branca.
A situação só se tornou mais agradável para eles quando resolveram almoçar na Feira Nordestina, em São Cristóvão. Círio e Lúcio já conheciam o ambiente e todos se deliciaram com os pratos típicos nordestinos. Apesar da culinária ser bem diferente da dos açorianos, os preparativos despojados de luxo muito os atraíram. Comeram buchada de bode, mocotó cabrito ensopado e como aperitivo se deliciaram co cachaça nordestina.
No retorno, para fechar com chave de lata, o carro derrapou, saiu da estrada e se não fosse a ajuda de Maria e Nossa Senhora Aparecida, não poderiam ter contado estas aventuras e desventuras.
Rose prometeu que ao Rio de Janeiro só voltará se for turista rica. Do aeroporto irá de táxi direto para um hotel à beira da praia. Do hotel sairá para almoçar nas imediações e visitará os pontos turísticos, sempre de táxi ou carro alugado com motorista.