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cronicas-->Dracko -- 17/11/2006 - 22:45 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Como se fora a última vez, nós tentamos de todas as formas; Ruim mesmo é fazer os horários coincidirem, é fugir dos jatos de fogo(estamos acostumados aos drackos), ruim mesmo é ela me dizer na última hora que não pode vir porque o trabalho está pesado, coisas que as mulheres inventam quando querem se enganar e quando querem evitar de dizer na sua cara que não estão nem um pouco afinadas com a idéia de saírem, inventam as desculpas mais torpes e esfarrapadas,fica difícil. Eu me divirto com as desculpas dela, mas daqui de onde olho, pela janela do ducentésimo décimo primeiro andar de meu apartamento, vejo os drackos vigilantes a postos, num comportamento típico de sua espécie. Agora, estão habitando a África e grandes cidades de Drackos surgem do nada. Jamais imaginaríamos bestas tão ferozes construindo enormes castelos onde somos recebidos por grandes vigilantes, já não somos alimento para sua espécie, somos comensais de suas mesas de ébano gigantes. Divirto-me com a idéia do primeiro encontro, o chamado Primum Contactum, os embaixadores cercados de um exército de armas e os drackos poderosos, eles não sabiam se estavam ali para conversarem ou se estavam ali para servirem de alimento ás hordas de monstros que guardavam os castelos reluzentes. As conversações foram produtivas.O Consenso de Dracko, como foi chamado, previa que nossa espécie deveria respeitar a África. Nada de ataques, nada de mísseis nucleares. Qualquer ação desta seria punida com nossa extinção, era esta a condição de Dracko. Num dia destruíram de tal forma um vilarejo nos Alpes que nada sobrou. Nada deteve a fúria dos dragões, ninguém foi poupado, nem cinzas sobraram do local. A humanidade parou, pasma, apavorada com a possibilidade do fim medonho e decidiu deixar a África em paz. As imagens eram as de um continente renovado. Castelos reluzentes em meio à selva de enormes árvores. Cataratas saltavam abismos cheios de pássaros emplumados e canoros. Animais voltavam às savanas africanas, viam-se espécies ressurgirem sabe-se lá de onde (teriam eles uma reserva ecológica?); Hordas de zebras, gorilas, leões, habitavam as agora vazias cidades dos homens. Mas havia novos homens, que se davam perfeitamente com os Drackos e administravam suas obras perfeitas. A população dos dragões diminuíra sensivelmente, mas nenhuma nação ousara desobedecer o Consenso, depois da destruição do vilarejo. De nossa parte, a insegurança fazia surgirem estados fortes e totalitários. Estados de "defesa" como costumavam proclamar as autoridades constituídas. Basicamente, espalhou-se pelo mundo a chama do controle do indivíduo, às custas de que haveria estranhas coincidências acontecendo entre nós, os assim chamados humanos, boatos de que fêmeas nossas estariam sendo inseminadas e uma raça híbrida estaria por nascer e dominar o mundo: Por tal coisa, o indivíduo comum era "vacinado" agora ao nascer. A "vacina" era um chip de controle de localização, frequência de ondas cerebrais e dados vitais. O chip baseava seu controle em bandas largas de frequência, monitores davam a idéia da localização e os sistemas de controle agora monitoravam inclusive o tipo de pensamento de alguns eleitos, num experimento que prometia conduzir ao controle total do indivíduo. Claro, havia os que resistissem. Muitos destes eram torturados e vacinados à força. Sempre eram os mais perseguidos. Não havia como fugir. Os controladores estavam em suas cabeças.
Mas eu e ela sempre tentávamos nos encontrar nas horas mais estranhas, quando os "controladores de vóo" dormiam ou repousavam ou simplesmente desligavam os relês ou o sistema deixava repentinamente de funcionar. Algumas vezes isto acontecera e verdadeiros surtos de violência surgiam e varriam ruas e cidades inteiras, mas as pessoas, pouco a pouco, eram convencidas de que o melhor mesmo era ter o chip. Cansavam-se, entregavam os pontos e finalmente rendiam-se à evidência de que o Estado lhes provia de tudo, então por quê não obedecer? Com o passar dos anos, ser "vacinado" passou a ser inclusive exigência para conseguir emprego, muito embora as grandes corporações olhassem com bons olhos os assim chamados rebeldes, os que ainda ousavam ser independentes. Mas a lei do estado onipotente caía sobre as cabeças de todos, na tentativa de proteger a Humanidade dos drackos e dos falsos humanos.
Eu mesmo havia sido vacinado, mas cedo percebera que havia um defeito ou intermitência no sinal que me controlava. Eu conseguia me ocultar, muitas vezes viajava com meu pensamento, fluía num estado de graça, deixava-me dominar por ódios medonhos e jamais fora capturado. Muitos de meus amigos haviam sido mortos por bem menos! Seria eu um Ungido? Ou meu chip funcionava mal desde meu nascimento?
Ela já não era tão ousada. Morena de olhos brejeiros, cabelos castanhos reluzentes e um corpo bem torneado, trabalhava em uma grande corporação em que exercia a função de um controlador, só que de dúzias de cabeças pensantes, de trainees de controladores, veja só a responsabilidade da moça. Ela não se abalava e adorava minhas escapadas e me acompanhava nas idéias, sempre longe das grandes cidades onde o forte sinal do Controle deixava de funcionar tão bem; Os controladores perdiam o contato e por estatística passavam a controlar pessoas próximas dela e ela podia sair um pouco deste mundo opressor, comigo dentro dela. Passávamos horas juntos, horas de ternura e prazer que talvez ela só pudesse ter comigo( não soubera até então de alguém como eu que conseguisse escapar dos Controladores de maneira tão completa).
A Humanidade vivia uma época sem precedentes. Concordara-se no Consenso em manter os drackos vigilantes e em determinadas horas viam-se os jatos de fogo. Estes jatos em geral eram dirigidos a locais ditos criminosos, jamais tinha havido época tão tranquila. Os drackos e os governos, cada um de seu lado, conseguiam domar os mais espertos e afoitos e pouco espaço sobrara à contravenção. Por outro lado, os corruptos eram desmascarados logo pelo chip e os políticos que ousassem se desviar tinham um fim semelhante aos pobres do vilarejo dizimado. De outra forma, também já não havia tamanha competição entre as nações. Armas só as que havia, pouco a pouco se fundiam os exércitos em um só, com várias línguas mas o mesmo objetivo: Proteger os que ainda eram humanos. Neste ponto, humanos e Drackos divergiam, assim como eu e minha amada maravilhosa. Os drackos queriam a África, nós queríamos nosso mundo de volta, mas o caminho já não tinha retorno; o que existia era uma espécie de guerra fria e oculta, os drackos e seus vigilantes, os governos e seus mísseis apocalípticos apontados, mas jamais disparados. Como disparar contra inimigo ao mesmo tempo tão temível, porém tão benevolente que permitira o renascimento da humanidade? Como extinguir uma espécie que revitalizara um Continente inteiro em questão de duas décadas? Quão milagrosos eram os poderes daquela raça estranha que se apossara daquela terra inóspita e doente e a transformara em um paraíso que muitos dos nossos olhavam com olhos cada vez mais cobiçosos?
Eu e ela discutíamos muito isto. Eu em minha resistência cultural, ela com as idéias de liberdade de uma menina libertária, revolucionária, que pertencia à elite da nova raça humana que surgia após o fim dos conflitos com os drackos. Estariam os dragões na maré da história e nós humanos definitivamente ultrapassados? Por quê nossa estranha agressividade contra nós próprios? Que necessidade havia de sermos controlados como um bando de ovelhas mal-pensantes? Ela me indagava e eu tinha as respostas na ponta da língua, mas ela me silenciava com seu poderoso olhar de mulher libertária e eu pouco podia fazer senão acompanhar seus movimentos endoidecidos, para horas depois conversarmos de novo, de novo...Até que tínhamos de partir ao encontro dos Controles e dos Controladores.
Chegar em casa depois destas maravilhosas fugas era supreendente, pelo menos para mim. Ela ligava furiosa comigo, porque em geral era cobrada de maneira veemente pelos seus ocultos senhores. Eu não: A Parede brilhava esverdeada, eu abria a garrafa de cerveja e bebia no gargalo, sempre provocante e ousado. Nunca o estalo, nunca a dor, nada de chamados na porta nem nos emails. Nada. Pelo menos até então.
Naquele dia algo ia errado.
Porque o apartamento que eu dizia que era meu já não parecia ser meu, tentei espantar estes pensamentos, inutilmente, pois pequenos detalhes faltavam. Grosso modo, tudo estava lá. Parecia no entanto uma cópia grosseira, como se fosse um papel carbono em que o grosseiro você consegue ler mas os detalhes se perdem e assim eu sentia aquele apartamento, aquele Box que antes me obedecia agora emitia estranhos sons que não eram os meus, nem as fragràncias que eu pedia eram as mesmas. Sempre estes excessos com Lamya. Eu sempre chegava diferente, mas desta vez estava muito,demais diferente.
--Som!
--Assim está bom?
--Você sabe que não!
--Mais baixo?
--Mais...
Um arrepio se apoderou de mim. Será que eu ainda existia? Ou por um capricho, meu chip fora apagado e com ele todo meu histórico, toda minha vida, meus dados todos apagados dos bancos de computadores? Tecnicamente se assim fosse, eu seria um paria. Um excluído! Não gostava da idéia de pairar à beira da sociedade que bem ou mal conduzia seus passos rumo a um progresso jamais visto. Eu me desacostumara à idéia da liberdade total.
Uma ligação.
--Aló?
--Oi!
--Nossa, ligando a esta hora?
--Querido...você está se sentindo estranho?
--Como assim?
--Como se não...
--...pertencesse a este local?
--Será que foi algo que fizemos lá?
--O que fizemos?
--Estou com medo!
--Você está se sentindo assim também?
--Por que acha que eu ligaria? O pior: Meu telefone está livre do controle: Veja, liguei para você e nenhuma advertência!
Certamente ela seria punida pelo que falava agora. Mas nada, nenhuma palavra, nennhuma admoestação. Sua Parede lhe dissera "Boa Noite senhorita..." e ela ligara para mim apavorada.
--Sei de uma coisa: Vou ao seu apartamento!
--Lamya! Você pode morrer por isto!
--Que importa!
--Não!
Silêncio do outro lado da linha. Total. Apenas suas palavras sobraram.
Meia hora depois tocaram em minha porta. Era Lamya, apavorada.
--Olhe para as ruas!
Focalizei a càmera externa nas ruas. Pessoas caminhavam sozinhas. Não haviam carros de polícia, nem perseguidos, nem caminhões trituradores, nem tropas de Controladores, não havia nada. Só pessoas caminhando, aturdidas, sem a opressão do Controle a lhes cobrar a ousadia em dores horrendas. Nada havia a não ser a absurda sensação de liberdade!
Os bares de minha cidade amanheceram cheios de gente comemorando.
Eu e Lamya comemoramos ao nosso modo.
Dormíamos quando chegaram as hordas de Drackos traiçoeiros.
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