Estamos ao final de um ano, um ciclo que passou, estamos ao final de mais uma pequena era de várias outras que se foram e muitas que ainda estão por vir. É nesta época que muitas decisões se tomam, muitas lágrimas se derramam e muitas pessoas pensam seriamente em acabar com o pouco de vida que lhes resta. Eu sou um médico e deparo com uma espécie de frenesí, de torpor imediatista que envolve as pessoas e nesses minutos finais é que todos os que quiseram ou deveriam resolver várias pendências, querem que tudo se acomode mágicamente, num passe de ilusionismo. Eu penso que isso é um mal do brasileiro, ao invés de planejar sua vida de maneira metódica, ou, sendo menos chato, de maneira mais previsível, prefere deixar tudo se acumular para a resolução final ser tomada nos últimos dias que antecedem as datas das festas de final de ano. Daí, os destemperos, as berrarias, as choradeiras, as mães desconsoladas, os pais que somem de casa e os filhos que resolvem apagar o Natal de suas cabeças. É dramático, mas não deixa de ser profundamente ridículo, o que todos querem mesmo é um punhado de paz em suas vidas e em suas famílias. Raios, se assim é, por quê não planejar para que tudo corra naturalmente ao final do ano? São as compras que se acumulam, as dívidas que se tornam insuportáveis, as viagens que jamais serão cumpridas na época certa, os presentes que deveriam ser adquiridos bem antes e que faltam na hora mais necessária...Engraçado, isto reflete nossa latinidade, porque os povos europeus têm mais tradição natalina do que nós e aparentemente as coisas são mais traquilas nesta época para eles. Nós somos latinos, nosso sangue brota das veias, então o irmão bate no outro, a mãe tma formicida, a filha atoleimada toma antidepressivos demais e quem vê o final da história somos nós, os médicos, via final comum de uma sociedade doente e subdesenvolvida até nas formas mais rudimentares de expressar suas mínimas necessidades. Trabalho há vinte e poucos anos como médico e todo o ano vejo a mesma coisa.
Eu tenho uma sugestão a todos esses personagens qe povoam os mais recónditos cantos de minha memória como agente da saúde, depois de muita análise e reflexão a respeito:
APRENDAM A SE PLANEJAR. CUIDEM DE SEUS CONFLITOS FAMILIARES EM CASA, NO SEIO DA FAMíLIA. DESARMEM-SE. AMEM-SE. GUARDEM-SE. POUPEM-SE. CUSTA MUITO FAZER ISTO? NÃO É MELHOR DO QUE TER DE SE OFENDEREM MUTAMENTE EM FRENTE A UM MÉDICO??
Que coisa, um médico, que cuida da saúde, precisar dar palpites em famílias desajustadas, e ainda em um pronto-socorro! Façam o favor. Vamos acordar!
Eu acho as opiniões de Mainardi um tanto quanto fortes e políticamente incorretas, mas vou criar um bordão: