Deparei com a inscrição no muro:
CELACANTO PROMOVE MAREMOTO
Arrepiei-me. Me soam a náuseas essas palavras que lembram um maremoto. Um Tsunami de muitas mortes. O Celacanto só vem à tona se o fundo o fizer; para isso, profundas mudançs devem ter havido no solo,revolvendo as poeiras eternas que flutuam num mar imenso, sepulcral. Eu deparei com a inscrição que me traz os tempos da carne exposta, de meus dedos doloridos de tanto colar cartazes, de minhas pernas bambas de medo seco, de minhas calças molhadas de esguichos de água fétida.
Deparei com a inscrição no muro:
GONHA MÓ BREU
Estranhei aquela parede:Arqueólogos deviam vê-la, pois de um lado a revolução, de outro a absoluta lerdeza do olhar de outros tantos que foi a mesmice, a entrega dócil a um escapismo que culminou em tantas e tantas mortes e tantos e tantos exílios. Celacanto, mortes, Gonha, exílio, paragens estranhas, tudo se mistura na mente de um observador que viveu e os estranhos sons das palavras sempre despertam o sonho, tal qual a música dos Beatles evoca o despertar de um estado de torpor: I read the news today oh boy...Celacanto. Gonha, maremoto. Transfiguração, medo das vísceras egressas, botas de couro, punhaladas nas costas, meio quilo de bosta solta na virilha, pizzas de atum seco, maremoto e vertigem.
Definitivamente, socorrei-me, ó arqueólogos.