Um ano que termina com um enforcamento após ter começado com um escàndalo dantesco não pode ter sido grande coisa. Sou contra os enforcamentos, contra as execuções em praça pública, sou contra as gangues violentas que queimam famílias, sou contra os atentados que dizimam prédios inteiros, sou contra nações poderosas que esmagam as mais fracas seja por meio da força, seja por meio de ameaças, seja por meio da economia.
Um ano que termina desse jeito boa coisa não foi. Pode ter sido o ano da redenção da democracia no Brasil, pois que reelegeram o Lula, apesar de toda campanha contra, apesar de eu ter votado no outro, apesar de tudo o que tentaram imputar ao bom barbudo. Bom, só numa democracia é que eu posso falar aqui, abertamente, num veículo midiático controlado por uma empresa ligada à Folha de São Paulo que tem em suas hostes gente ligada ao PT. Porque se assim não fosse, eu sumiria na calada da noite, nem teria chegado a falar ou seria espancado como quase fui ao sobreviver à ditadura ferrenha que houve aqui neste país entre 1964 e 1984. Foram vinte anos e nossa democracia é muito jovem. Mas nosso ano começou com um escàndalo de dar dó. Gente corrupta e golpes de mídia e pessoas acusando outras de coisas arrepiantes. Bem, pelo menos ninguém morreu como logo após a deposição de Fernando Collor de Mello. Círculos e mais círculos de pessoas sendo eliminadas...
Um ano que termina assim nos deixa com um travo amargo na boca. A última coisa que eu e, acredito grande parte da população queria ver era um homem enforcado. Isso dá azar, mau agouro. Nada bom para o ano vindouro. Mas o que passou boa coisa não foi. Vimos maracutaias, aumentos abusivos de salários e uma tentativa torpe de solapar o poder judiciário e legislativo, colocando na mídia abertamente (isso só uma democracia permite) o absurdo de tais aumentos.Há até a suspeita de que um poder Executivo forte precise de que os outros poderes enfraqueçam. Será? Boa coisa não foi esse ano. Vimos um aumento do desemprego, vimos o solapamento dos salários, vimos a forca de Saddam. Particularmente, eu odiava Saddam. Mas a mídia americana o satanizou, ele não era flor que se cheire, e deu no que deu. Sou contra a pena capital, assim como sou contra as invasões brutais em nome da tal "democracia". Qual democracia, a deles? A que tudo permite nas fronteiras do ódio?
Um ano que termina assim está mais que velho, está podre, boa coisa não foi, dá azar, batam na madeira, esconjuro, sai-de-mim, fora bicho ruim, sal grosso nas encruzilhadas, dá azar para o que nasce.
Porque, definitivamente, um ano que termina desse jeito, assim como foi, de qualquer maneira que se olhe, boa bisca não foi.