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cronicas-->Conversa de Louco -- 31/12/2006 - 10:53 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Caminhava pelas ruas sórdidas de New Orléans, isso antes do furacão passar. Caminhava pelos guetos negros de Mama África em toda parte, sempre com um pé na terra firme. A garota estava de pé, bem embaixo do poste de luz, ela parecia mais alta do que aparentava a primeira visão. Mas estava lá, era real, ela fumava um cigarro sorvendo a tromba branca que se erguia de sua boca carnuda de mulata experimentada e vil. Sabia que era sacana, olhava para suas coxas marcadas e ainda via juventude onde em breve não haveria mais nada. Ela tossia.



--Quanto é?



--Quanto é o quê ó viado!



--Se fosse não estava te abordando.



--Ah sim. Cinquenta agora, mais cinquenta e a consumação aqui ao lado.



--Exigente!...



--Tá pensando o quê ó vagabundo! Puta que é puta se valoriza!



Ela tossia e eu sabia, ela estava doente. A primeira impressão que eu tive é que ela adoecera. A praça era apinhada de meninas e ela sempre ficava longe, medo do passado tenebroso que voltava e do presente do gigoló que olhava para ela e suspirava essa já vai me dar trabalho de novo...



--Que perfume é este?



--Patchouli indiano.



--Ah bom. Não conheço perfume!



--Tá na cara que você mal conhece seus peidos.



--Puta sofisticada!



--Os franceses me ensinaram!



Sentamos na mesinha de um lugar escuro que fedia a queijo azedo e suor, tinha muitos trabalhadores braçais e ela olhava e cumprimentava a todos. Puta popular!



--Popular a belezura hein?



--Ciúme? Chamo o Marcão!!!



O dito cujo devia ter uns três metros de costas. A gente assusta com tal nevergadura, mas eu estava meio alto e desafiador:



--Pois sim!!!



--Olha, o Marcão não leva desaforo!



--Dane-se.



--Agora quem ficou doente foi você!



--Dane-se. Dane-se! Dane-se!!!



--Ó meu branquelo desafiador, parece um galinho, todo estufado!



A moça tinha umas ancas e bebia feito homem feito. Tinha um apelido: Tina d´água. Vai ver que era por isso.



--E aí menino, vai ficar me olhando com esta cara de mocho?



--Ué, estou pagando, não posso?



--Cê pode estar pagando, mas não abusa não que te dou um jeito, o Marcão vai tornar tua noite uma eternidade!



A voz era dura, ressoava como se ela estivesse junto a um muro baixo, era seca e ríspida. E mais de uma vez a surpeendí olhando outros ali.



--Ele é bonito?



--Quem?



--Ele ué; não está olhando pra ele?



--Ele sim é bonito!



--E eu?



--Não gosto de branquelos, mas você tem belos olhos. Gosta de ser baixinho?



--Adoro. Você nem imagina!



--Meia...



--Pára!



--...Tá bom. Gostando do rum?



--Forte!



E assim foi até a manhã, eu e ela nesta conversa de doidos, mas de manhã veio o melhor e o que menos fizemos foi dormir. Porque vamos dormir para sempre, prefiro deitar de vez a deitar todos os dias. De modo que naquela mesma noite eu caminhava de café em café e não achara ninguém parecido com a mulata, doce a ilusão de que a encontraria, gastei as calçadas no ir e vir, fiquei arrasado ao me saber sozinho naquela cidade escura e que de certa forma já antecipava seu futuro nas águas negras de seu passado. Mas avizinhava-se uma noite quente!

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