Caminhava pelas ruas sórdidas de New Orléans, isso antes do furacão passar. Caminhava pelos guetos negros de Mama África em toda parte, sempre com um pé na terra firme. A garota estava de pé, bem embaixo do poste de luz, ela parecia mais alta do que aparentava a primeira visão. Mas estava lá, era real, ela fumava um cigarro sorvendo a tromba branca que se erguia de sua boca carnuda de mulata experimentada e vil. Sabia que era sacana, olhava para suas coxas marcadas e ainda via juventude onde em breve não haveria mais nada. Ela tossia.
--Quanto é?
--Quanto é o quê ó viado!
--Se fosse não estava te abordando.
--Ah sim. Cinquenta agora, mais cinquenta e a consumação aqui ao lado.
--Exigente!...
--Tá pensando o quê ó vagabundo! Puta que é puta se valoriza!
Ela tossia e eu sabia, ela estava doente. A primeira impressão que eu tive é que ela adoecera. A praça era apinhada de meninas e ela sempre ficava longe, medo do passado tenebroso que voltava e do presente do gigoló que olhava para ela e suspirava essa já vai me dar trabalho de novo...
--Que perfume é este?
--Patchouli indiano.
--Ah bom. Não conheço perfume!
--Tá na cara que você mal conhece seus peidos.
--Puta sofisticada!
--Os franceses me ensinaram!
Sentamos na mesinha de um lugar escuro que fedia a queijo azedo e suor, tinha muitos trabalhadores braçais e ela olhava e cumprimentava a todos. Puta popular!
--Popular a belezura hein?
--Ciúme? Chamo o Marcão!!!
O dito cujo devia ter uns três metros de costas. A gente assusta com tal nevergadura, mas eu estava meio alto e desafiador:
--Pois sim!!!
--Olha, o Marcão não leva desaforo!
--Dane-se.
--Agora quem ficou doente foi você!
--Dane-se. Dane-se! Dane-se!!!
--Ó meu branquelo desafiador, parece um galinho, todo estufado!
A moça tinha umas ancas e bebia feito homem feito. Tinha um apelido: Tina d´água. Vai ver que era por isso.
--E aí menino, vai ficar me olhando com esta cara de mocho?
--Ué, estou pagando, não posso?
--Cê pode estar pagando, mas não abusa não que te dou um jeito, o Marcão vai tornar tua noite uma eternidade!
A voz era dura, ressoava como se ela estivesse junto a um muro baixo, era seca e ríspida. E mais de uma vez a surpeendí olhando outros ali.
--Ele é bonito?
--Quem?
--Ele ué; não está olhando pra ele?
--Ele sim é bonito!
--E eu?
--Não gosto de branquelos, mas você tem belos olhos. Gosta de ser baixinho?
--Adoro. Você nem imagina!
--Meia...
--Pára!
--...Tá bom. Gostando do rum?
--Forte!
E assim foi até a manhã, eu e ela nesta conversa de doidos, mas de manhã veio o melhor e o que menos fizemos foi dormir. Porque vamos dormir para sempre, prefiro deitar de vez a deitar todos os dias. De modo que naquela mesma noite eu caminhava de café em café e não achara ninguém parecido com a mulata, doce a ilusão de que a encontraria, gastei as calçadas no ir e vir, fiquei arrasado ao me saber sozinho naquela cidade escura e que de certa forma já antecipava seu futuro nas águas negras de seu passado. Mas avizinhava-se uma noite quente!